Jeb, ou a candidatura de um Bush que precisa de oxigénio

A seguir ao pai e ao irmão George, chega a vez de outro Bush se candidatar à Casa Branca — o anúncio está marcado para esta segunda-feira. O conservador de sempre é visto por alguns como um suspeito liberal num partido cada vez menos moderado.

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NICHOLAS KAMM/AFP

O conselho chegou em forma de reprimenda, há dois anos, pela voz da mãe, Barbara, quando o seu filho Jeb já tinha os olhos postos na Casa Branca: "Há mais pessoas com muita competência. Já tivemos Bushes que cheguem."

Mas a ambição de não ficar atrás do pai e do irmão nos livros de História dos EUA levou Jeb a dar a volta à respeitada e determinada Barbara, que em Fevereiro deste ano acabou por renunciar à bombástica declaração de Abril de 2013, sem rodeios e com sentido de humor, interrompendo um discurso do filho na gala de uma instituição de caridade financiada pela família: "Jeb, que conversa é essa sobre termos Bushes que cheguem? Mudei de ideias."

Por essa altura, Jeb Bush já tinha vestido o fato de candidato desde Dezembro, quando anunciou que ia para o terreno tentar perceber se teria apoios suficientes para seguir em frente com o sonho de ser o 3.º Bush na Casa Branca – como se o apelido, o passado como governador da Florida, a fortuna pessoal e a poderosa rede de contactos da família não fossem suficientes para afastar quaisquer dúvidas.

Se a candidatura oficial, que é anunciada nesta segunda-feira, só é surpresa para quem tem menos vontade de acompanhar a política americana do que apanhar uma forte constipação, o facto de Jeb Bush chegar a meio do ano sem descolar dos seus adversários nas sondagens é algo que poucos se atreveriam a vaticinar.

No estado do Iowa, as sondagens estão inclinadas para o lado de Scott Walker, o governador do estado do Wisconsin que é conhecido pela sua luta sem tréguas contra os sindicatos. A média das sondagens mais recentes deixa Jeb Bush em 3.º lugar no Iowa, atrás de Walker e de Mike Huckabee; dá-lhe uma curta vantagem no New Hampshire; e declara um empate técnico com Scott Walker na Carolina do Sul. Nada bom para quem parecia ter a nomeação no bolso pelo simples facto de ter o apelido certo.

Às esperadas críticas dos adversários do Partido Democrata juntam-se dúvidas levantadas nas suas próprias fileiras. O senador John McCain, que se candidatou em 2008 contra Barack Obama, disse que Jeb "não tem correspondido ao nível de expectativas criadas por um Bush".

Bob Martinez, um antigo governador da Florida e apoiante da corrida de Bush à Casa Branca, acha que ele está "um pouco enferrujado", por já não concorrer a nada desde 2002, quando foi eleito pela segunda e última vez governador no mesmo estado. "Ainda está à procura do seu ritmo", disse Martinez a The New York Times.

Mas o principal problema da sua campanha foi resumido em Dezembro do ano passado num título do site de análise política FiveThirtyEight: "Será Jeb Bush demasiadamente liberal para vencer a nomeação do Partido Republicano em 2016?"

"Há um preconceito em relação a ele – o de que ele é outro Bush, que é um moderado –, algo que não é justo e que ele terá de ultrapassar", disse Andrew Card, tão próximo da família que foi secretário dos Transportes do Presidente George Bush e chefe de gabinete do Presidente George W. Bush.

Que Jeb Bush seja visto como um moderado no Partido Republicano em 2015 pode ser uma surpresa para quem se lembra dos seus mandatos como governador da Florida – mas isso diz mais sobre a viragem à direita do partido nos últimos anos, principalmente desde a emergência do movimento Tea Party, do que de qualquer suposta viragem de Jeb Bush ao centro. Em comparação, numa lista elaborada pelo site FiveThirtyEight, os antigos Presidentes Richard Nixon e George Bush estão um pouco à esquerda de Jeb, mas todos os outros candidatos à nomeação pelo Partido Republicano em 2016 estão à sua direita.

Foi ele quem promulgou a primeira lei "stand-your-ground" nos EUA, que os críticos consideram ser mais próxima de uma licença para matar do que uma protecção da legítima defesa; e fez tudo o que pôde para prolongar artificialmente a vida de Terri Schiavo – a norte-americana que esteve em estado vegetativo entre 1990 e 2005.

Em declarações ao site Politico, em Janeiro, o marido de Terri, Michael Schiavo, acusou Jeb Bush de o ter feito passar "por um inferno", e disse que ele "devia sentir-se envergonhado". Mas Dennis Baxley, antigo membro da Câmara dos Representantes da Florida, considera que para Bush é tudo uma questão de princípios: "Se quiserem entender Jeb Bush, têm de perceber que ele se guia por princípios e não por conveniência. Pode estar errado em relação a alguma coisa, mas sabe em que acredita."

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