Já ninguém lança sites de notícias apartidários nos EUA: o mundo das notícias falsas

O lucro proporcionado pelo Facebook e pelo Google ajudou a sustentar os sites de notícias de pendor ideológico e levou à criação de sites de notícias falsas.

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Todos os indivíduos – independentemente do seu partido – são parciais pela sua própria visão do mundo Brian Snyder/Reuters

Quase todos os sites noticiosos lançados nos últimos 20 anos têm um ângulo partidário. O site Axios mapeou as datas de lançamento de 89 jornais online nos EUA, de 1993 a 2015, e descobriu uma explosão no financiamento de sites de direita desde 2010. E acrescenta que esta explosão não pode ser completamente explicada pelo aumento da polarização política nos EUA – em vez disso, é parcialmente atribuído ao aumento da expressão do Google e do Facebook. “O Facebook, em particular, tem um algoritmo que favorece o conteúdo que atrai o interesse dos utilizadores”.

O Axios categoriza o site Politico como o único de notícias mainstream lançado desde 2000. (Provavelmente não vale a pena explicar que a definição de mainstream e de "notícias" varia – este gráfico olha para a maneira como os leitores desses sites se identificam e é útil). 

“O mesmo motivo de lucro que criou e ajudou a sustentar os sites de notícias com pendor ideológico levaram à criação de sites de notícias falsas”, nota o Axios. “Assim que o Google e o Facebook perceberem quais devem ser as suas respostas, uma vez que são uma das origens de todos esses dólares provenientes da publicidade nos sites de notícias falsas, pode registar-se também uma mudança no modelo de negócio dos sites partidários”.

É fácil (e lucrativo!) mudar uma história super-conservadora para que se torne super-liberal. O Liberal Society e o Conservative 101 são dois sites e grupos de Facebook hiper-partidários que, descobriu o Buzzfeed, são detidos pela mesma empresa: a American News LLC de Miami. As histórias do site mudavam apenas algumas palavras e publicavam os mesmos tweets. A empresa American News LLLC também detém o site American News, que publicou a história falsa viral sobre o apoio de Denzel Washington a Trump. A empresa parece estar a expandir-se para o clickbait religioso, registando os domínios do DevoutAmerica.com e EthicalAmerican.com.

“Trump polariza mesmo a visão sobre a realidade"

Os investigadores do MIT descobriram que era mais provável que os norte-americanos acreditassem em afirmações falsas atribuídas a Trump do que se não fossem atribuídas; os democratas acreditavam mais facilmente nas afirmações de Trump quando não eram atribuídas do que se fossem. “Não é que a desinformação atribuída a Trump seja menos provável de ser rejeitada pelos republicanos”, disse Adam Berinsky, um professor de ciência política no MIT e um dos co-autores do trabalho, à Science Daily. “As coisas verdadeiras que Trump disse, se lhe forem atribuídas, fazem com que os democratas estejam menos dispostos a acreditar nelas… Trump polariza mesmo a visão das pessoas sobre a realidade”. Quando as afirmações falsas eram corrigidas, os apoiantes de Trump não diminuíam a probabilidade de votar nele. “Não tem um efeito no seu apoio”, disse Berinsky. “Não é que as coisas incorrectas lhe tragam apoio, mas também não lhe custam esse apoio”.

Não é apenas uma questão republicana. O trabalho “contribui para a literatura crescente que afirma que todos os indivíduos – independentemente do seu partido – são parciais pela sua própria visão do mundo, sem que existam diferenças fundamentais na cognição entre pessoas com valores políticos diferentes”, escreveram os autores. Para além disso, para “testar se as conclusões actuais são generalizáveis para além de Donald Trump, esta experiência deveria ser replicada com uma figura democrática e uma figura republicana diferente”.

Facebook apoia “literacia noticiosa”

Um “grupo de trabalho constituído por pessoas que compreendem as necessidades deste problema, não apenas como uma repetição do trabalho valioso que foi desenvolvido até agora, mas também com uma fornada de ideias frescas e ambiciosas sobre como fazer uma escala de literacia noticiosa”, juntou-se no último fim-de-semana de Fevereiro na Escola de Jornalismo e Comunicação de Massas de Cronkite, no estado do Arizona, EUA, liderado por Dan Gilmor e apoiado pelo Facebook. O objectivo, segundo a rede social, é encontrar “soluções de escala” para ajudar as pessoas a tomar “decisões inteligentes na escolha de conteúdo, com o objectivo de criar comunidades informadas por todo o ecossistema informativo, e não apenas no Facebook”.

Jeff Jarvis, que foi ao evento, não é fã da expressão “literacia noticiosa”. “O nosso objectivo principal não é fazer com que o público seja mais letrado em termos noticiosos, mas fazer com que o jornalismo incentive a literacia do público… Não gosto de enquadrar isto enquanto ‘literacia’ porque pode ser uma forma paternalista e crítica de olhar para as pessoas que servimos”.

O laboratório do ICYMI organizou uma conferência que teve lugar na Fundação Nienman e no Media Lab do MIT, a MisInfoCon. Entre as ideias: um “filtro” para aos sites de notícias falsas para publicitários.

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