Israel inaugura era Trump com anúncios de expansão de colonatos

Sai Obama e mudam “as regras do jogo” em Jerusalém. Netanyahu já falou com o novo líder americano.

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Netanyahu a presidir ao conselho de ministros deste domingo Ronen Zvulun/EPA

A semana israelita começa ao domingo e Benjamin Netanyahu iniciou a primeira da era Donald Trump prometendo aos seus ministros levantar todas as restrições sobre a construção de casas para colonos na Jerusalém Leste ocupada que resultam da pressão diplomática americana, após uma conversa telefónica com o Presidente norte-americano, ao fim do dia. Em Washington, a Casa Branca fez saber que "está a dar os primeiros passos de discutir" o tema de mudar a embaixada dos EUA em Israel de Telavive para Jerusalém.

Netanyahu explicou no Conselho de ministros, de manhã, que o que está “disposto a dar aos palestinianos não é exactamente um país com todos os poderes”. Quase em simultâneo, o município de Jerusalém aprovava a construção de mais 566 casas para colonos na Jerusalém Leste ocupada, anunciando que “as regras do jogo mudaram com a chegada de Donald Trump à presidência”.

Ainda antes de serem anunciadas decisões, é na capital disputada que o embaixador nomeado dos Estados Unidos em Israel já disse pretender viver. David Friedman, um acérrimo defensor dos colonatos ilegais no território ocupado à Palestina e anexado a Israel, já esclareceu que mesmo que a embaixada não mude de Telavive para Jerusalém (como Trump prometeu durante a campanha), ele pretende viver e trabalhar na cidade sagrada para as religiões do livro.A sua nomeação ainda não foi confirmada no Congresso

Trump e Netanyahu falaram este domingo ao telefone – segundo o Canal 2 da televisão israelita, o novo Presidente americano iria mesmo anunciar a mudança da embaixada para a cidade que os palestinianos querem como capital de um futuro estado, mas Trump limitou-se a dizer que a conversa "foi muito simpática".

“Já não temos as mãos atadas como no tempo de Barack Obama. Agora, podemos finalmente construir”, disse o presidente da câmara adjunto de Jerusalém, Meir Turjeman, citado pela AFP. Aprovada pelo município foi a autorização para se construírem mais 566 casas para colonos em Jerusalém Leste – um plano que estava na gaveta por causa da oposição da Administração Obama. Há 200 mil colonos a viver em Jerusalém Leste, para além de 430 mil na Cisjordânia.

“Tivemos oito anos com Obama a pressionar-nos para congelar a construção. O município não tem planos congelados, mas muitas vezes não obtivemos a aprovação do Governo por causa da pressão americana”, esclareceu ainda o presidente da câmara, Nir Barkat. “Espero que essa era tenha chegado ao fim.”

Os falcões israelitas não querem perder tempo. No primeiro conselho de ministros pós-Obama, Yisrael Katz, ministro dos Transportes e dos Serviços Secretos e Energia Atómica, levou à discussão o seu plano para anexar dezenas de colonatos na área de Jerusalém, incluindo Ma'aleh Adumim (na Cisjordânia, a 7 km de Jerusalém) e grande parte da Cisjordânia. Outro ministro, o da Educação, Naftali Bennet, quis aproveitar para tentar fazer aprovar uma lei que fará aplicar a soberania israelita ao mesmo colonato, com uma localização estratégica e 37 mil habitantes.

Segundo a imprensa israelita, Netanyahu tentou que os seus ministros adiassem estas discussões porque Trump lhe terá dito que não quer ver medidas anunciadas antes de serem debatidas com os novos dirigentes americanos.

Para a organização Ir Amim, um grupo israelita independente e de esquerda que funciona como uma espécie de provedor ou supervisor dos colonatos, “a anexação de Ma'aleh Adumim e de E1 [área chave, entre o primeiro colonato e o Leste de Jerusalém] vai bloquear Jerusalém Leste pelo seu lado oriental, engolindo as suas últimas reservas de desenvolvimento e aumentando o fosso que a separa da Cisjordânia”. Na prática, torna completamente inviável um estado palestiniano contíguo e a solução dois estados.

A propósito da solução dois estados, o primeiro-ministro ouviu o seu ministro da Ciência, Ofir Akunis, dizer-lhe que, ao contrário dele, se opõe a esse cenário, sendo coerente com a posição do Likud (o partido da direita conservadora de Netanyahu), descreve o jornal Ha’aretz. “Não tenho a certeza que estivesse contra a minha opinião se a ouvisse em detalhe”, respondeu Netanyahu, deixando escapar um resumo do que se preparará para propor a Trump. “Porque o que eu estou disposto a dar aos palestinianos não é exactamente um país com todos os poderes, mas um ‘estado menos’ [state minus], que é o que os palestinianos não aceitam”.

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