Daesh reivindica atentado em Diyarbakir, mas Turquia continua a acusar curdos

Foi a primeira vez que o Estado Islâmico reivindicou um atentado em solo turco, mas Ancara insiste que a responsabilidade pelo atentado é do PKK, o grupo armado dos independentistas curdos

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O atentado vitimou pelo menos nove pessoas e deixou feridas mais de cem Reuters/SERTAC KAYAR

O Daesh reivindicou o atentado terrorista ocorrido sexta-feira em Diyarbakir, uma das maiores cidades do sudeste da Turquia. “Combatentes do Estado Islâmico detonaram um veículo carregado de explosivos, estacionado junto a um quartel da polícia turca”, adiantou a agência noticiosa Amaq, considerada parte da estrutura do grupo. É a primeira vez que o ISIS reivindica um atentado em solo turco. Ainda assim, o Governo turco, tal como o fez logo após a explosão do veículo que vitimou pelo menos nove pessoas e deixou feridas mais de cem, continua a responsabilizar o grupo armado curdo PKK pelo ataque terrorista.

O atentado aconteceu poucas horas depois de as autoridades turcas terem detido vários parlamentares do principal partido curdo na Turquia, HDP, e os explosivos foram detonados nas proximidades da prisão de Diyarbakir para onde aqueles haviam sido conduzidos – o El País, citando um dos detidos, o deputado Ziya Pir, adianta que, tendo abandonado o edifício pouco antes da explosão, os representantes curdos escaparam por “uma unha negra”.

Abu Bakr Al Bagdadi, o líder do Daesh, fora ouvido numa gravação emitida poucos dias antes do atentado a incitar os seus jihadistas a atacar a Turquia como retaliação pelo envolvimento do país na batalha pela reconquista de Mosul, a importante cidade iraquiana tomada pelo Daesh em 2014. As autoridades turcas desconfiam, porém, da paternidade do atentado em Diyarbakir assumida pelos islamistas. Logo após a explosão, o governador de Diyarbakir emitiu um comunicado em que atribuía a responsabilidade à ala militar do PKK, afirmando terem sido interceptadas três comunicações rádio entre membros da organização, nas quais um operacional com o nome de código Kemal era identificado como autor do atentado. O primeiro-ministo turco, Binali Yildrim, acompanhou o governador na acusação do PKK.

O El País contactou uma fonte ligada ao que define como serviços de segurança ocidentais que acompanha as suspeitas das autoridades turcas. “O Estado Islâmico não tem na Turquia as infraestruturas para conseguir tamanha quantidade de explosivos [terão sido utilizadas três toneladas]”. Nos anteriores atentados ligados ao Daesh na Turquia foram utilizados não mais que “entre 25 e 30 quilogramas de explosivos”. É também levantada a questão de o carro usado para o atentado não estar estacionado, como é dito pela agência Amaq. Foi detonado após um taxista se ter dado conta do material que carregava no seu interior.

A reivindicação do atentado, sendo ou não da autoria do Daesh, enquadra-se na política da organização de contribuir para o aumento da conflitualidade entre o governo turco e os separatistas curdos. A Turquia participa neste momento, ainda que de forma modesta, na batalha pela reconquista de Mossul, e os curdos têm sido os maiores adversários do Daesh desde que este começou a ganhar terreno no Iraque ou na Síria.

O atentado surge num momento particularmente tenso numa Turquia em convulsão desde o golpe de estado falhado em Julho. À prisão dos líderes e deputados do HDP seguiu-se o bloqueio da cobertura jornalística do ataque terrorista e a limitação do acesso da população a redes sociais como o Twitter, Facebook ou WhatsApp.

Antes da reivindicação do atentado pelo Daesh, a União Europeia condenou-o pela voz da Alta Representante para a Política Externa e de Segurança, Federica Mogherini. Citada pela Reuters, recordou que a União considera o PKK uma organização terrorista e enviou as suas condolências às vítimas. De Washington, por sua vez, o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, apelou ao PKK para que este ponha fim a “estes ataques brutais e sem sentido”. Tanto a União Europeia como os Estados Unidos manifestaram depois a sua preocupação com o actual estado da república turca. Kirby acusou o Governo turco de “minar a confiança na democracia e prosperidade económica da Turquia” com os cortes no acesso à Internet. Por sua vez, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Shulz declarou que deter “representantes legítimos e democráticos da sociedade turca envia um sinal arrepiante sobre o estado do pluralismo político” no país.

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