Iraque declara vitória sobre o Estado Islâmico em Falluja, mas os combates continuam

Forças leais a Bagdad ainda lutam contra bolsas de resistência jihadista. As organizações humanitárias não estão a conseguir lidar com o êxodo de milhares de civis em fuga.

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Os combates centram-se no hospital de Falluja, onde comando militar jihadista. Ahmad al-Rubaye/AFP

O primeiro-ministro iraquiano declarou vitória sobre o grupo Estado Islâmico em Falluja, apesar de existirem ainda combates em curso entre as forças leais a Bagdad e os últimos militantes jihadistas, sobretudo nos bairros mais a Norte, para onde os extremistas bateram em retirada depois de perderem o centro da cidade e o grande complexo governamental. De acordo com Haider al-Abadi, a vitória final acontecerá nas próximas horas.

“Prometemos-vos a libertação de Falluja e já a reconquistámos”, disse o primeiro-ministro iraquiano na televisão estatal, ao final da noite de sexta-feira. “As nossas forças de segurança controlam a cidade, salvo em algumas bolsas de resistência que serão eliminadas nas próximas horas”, acrescentou, reforçando assim comentários de alguns dos seus comandantes, que argumentam que muitos dos combatentes do Estado Islâmico estão já em fuga.

Os combates deste sábado centram-se no grande hospital de Falluja, que o Estado Islâmico está a usar simultaneamente como posto para atiradores furtivos e comando militar. Os avanços sobre o edifício são lentos, por receio de que os jihadistas se tentem servir dos doentes como escudo humano, segundo afirmou o líder das forças especiais, Haider al-Obeidi. Acrescentando que as tropas iraquianas controlavam 80% da cidade na manhã deste sábado.

A par dos combates em torno do hospital e nos bairros mais a Norte, estão também em curso grandes operações de desminagem nas zonas já capturadas. A ofensiva principal está a cargo da equipa de elite de combate ao terrorismo, que a seu lado tem o exército, a polícia e tribos sunitas locais, usadas como forma de atenuar as sensibilidades antigovernamentais da população de Falluja, a primeira cidade a cair nas mãos do Estado Islâmico

Mas o comando militar norte-americano parece menos optimista do que os seus aliados iraquianos. “Há ainda alguns combates pela frente”, afirmou o secretário da Defesa dos EUA, Ash Carter, falando sobre os avanços finais em Falluja, onde uma vitória sobre o Estado Islâmico terá um grande peso simbólico: esta foi a primeira cidade conquistada pelo grupo, já em Janeiro de 2014, meses antes da sua campanha fulminante pelo Iraque e Síria.

Não há ainda detalhes sobre quantos civis estão ainda aprisionados na cidade, mas a retirada dos jihadistas das principais zonas urbanas causou um êxodo de milhares de pessoas entre quinta e sexta-feira. Nos últimos dias começaram a circular imagens de dezenas de civis a nado pelo rio Eufrates, cujas margens estavam até há muito pouco tempo nas mãos do Estado Islâmico.

O Conselho Norueguês de Refugiados estima que 20 mil pessoas tenham fugido de Falluja desde quinta-feira — as Nações Unidas afirmam que foram 68 mil desde o início da campanha para a reconquista da cidade, a 23 de Maio. Milhares dormem agora ao relento e passam os dias ao sol, enquanto as organizações humanitárias dizem estar a ficar sem meios para lhes dar assistência. “[Os] meios de contingência estão quase a acabar”, alerta no Twitter o sub-secretário para a resposta humanitária de urgência da ONU, Stephen O’Brien.

Mas Falluja não é a única campanha militar de relevo no Iraque. “Mossul é a próxima batalha”, afirmou Haider al-Abadi, apontando armas àquela que é a capital iraquiana do Estado Islâmico e a segunda maior cidade do país, onde se têm também desenrolado algumas campanhas de menor envergadura, que vão apertando o cerco ao último grande bastião do Estado Islâmico.

Este sábado arrancou aquilo que os iraquianos estão a designar como “a segunda fase da operação” para libertar a grande cidade, que começará por vencer a pequena localidade de Qayyarah aos jihadistas, ainda a 60 quilómetros do centro, e usá-la “como trampolim para reconquistar Mossul”, segundo afirmou à AFP o ministro iraquiano da Defesa, Khaled al-Obeidi.

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