Iranianos não vão participar na peregrinação anual a Meca

Um ano depois da morte de centenas de pessoas durante a hajj, a tensão acumula-se entre as duas potências regionais.

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Todos os anos milhões de peregrinos participam na hajj AFP

Os iranianos não vão participar neste ano na hajj, a grande peregrinação a Meca, anunciou o ministro da Cultura de Teerão, pondo um ponto final nas tentativas de negociar um entendimento com a Arábia Saudita, depois do corte de relações entre os dois países e de centenas de fiéis terem morrido nas cerimónias do ano passado.

Sexta-feira, a delegação iraniana enviada a Riad para negociar as condições da peregrinação deixou a capital saudita sem que tenha sido possível um acordo, com cada uma das partes a acusar a outra pelo fracasso das negociações. Foi a segunda tentativa de chegar a um entendimento, depois de em Abril as reuniões terem terminado com uma troca de acusações – Teerão responsabilizou a Arábia Saudita pelo adiamento dos preparativos necessários à organização das viagens, Riad acusou o rival xiita de má-fé.

“Após duas séries de negociações infrutíferas por causa dos entraves sauditas, os peregrinos iranianos não poderão efectuar a hajj”, declarou o ministro Ali Janati à televisão estatal iraniana.

A peregrinação anual a Meca é um dos cinco pilares do religião muçulmana, sendo obrigatória para todos os fiéis com meios para a realizar e todos os anos milhões de pessoas, de todas as correntes do islão, acorrem à cidade para cumprir os vários ritos e cerimónias. Mas a hajj de 2015 ficou tragicamente marcada pela morte de centenas de pessoas – 700 segundo o balanço oficial, mais de duas mil tendo em conta os números divulgados pelos países de origem dos peregrinos – naquele que terá sido um dos maiores espezinhamentos ocorridos nas últimas décadas em Meca.

Só o Irão contabilizou mais de 400 mortos, num incidente que elevou a tensão que há muito se acumula entre a potência xiita e o seu grande rival sunita, a lutar pelo predomínio na região, tendo tomado lados opostos nas guerras da Síria e do Iémen.  

Os preparativos para a peregrinação deste ano tornaram-se ainda mais difíceis quando, em Janeiro, Riad cortou relações diplomáticas com Teerão, depois de manifestantes iranianos terem invadido e danificado as suas representações no país, em protesto contra a execução de um líder religioso xiita saudita.

A Arábia Saudita acusa a República Islâmica de estar a politizar a hajjI, assegurando que accionou todos os mecanismos necessários para garantir a vinda dos peregrinos iranianos, incluindo a emissão de vistos electrónicos (necessários tendo em conta que as representações diplomáticas continuam encerradas), um acordo para o transporte aéreo entre os dois países (as ligações permanecem suspensas) e representação diplomática para os cidadãos iranianos através da embaixada Suíça. O Irão assegura que há inúmeros entraves que continuam a impedir uma viagem em segurança dos seus cidadãos.

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