Investir no acolhimento de refugiados é investir no crescimento

As pessoas que têm chegado à União Europeia podem dar a ganhar aos países que as recebem quase o dobro daquilo que é investido para as acolher. Basta seguir as políticas certas.

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Um grupo de refugiados sírios perto de Idomeni, na Grécia. Marko Djurica/Reuters

Há muitos motivos para defender uma postura mais solidária dos países e instituições da União Europeia face à maior crise refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Solidariedade, convenções e protocolos internacionais, políticas demográficas… Se essas razões não forem suficientes, um relatório divulgado esta quarta-feira confirma e quantifica o que muitos defensores de uma política mais acolhedora têm repetido: cada euro investido em receber os refugiados que têm chegado à UE vai transformar-se num benefício de dois euros até 2020.

“O maior mito é que os refugiados são um fardo – uma ideia errada partilhada até pelos que são a favor de deixar que eles venham, pelos que pensam que isso custa dinheiro mas é a coisa certa a fazer”, diz ao Guardian Philippe Legrain, ex-conselheiro económico do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e fundador do novo think tank Open Political Economy Network. “Isso é incorrecto. Claro que a principal motivação para receber refugiados é o facto de eles estarem a fugir da morte, mas depois de chegarem eles podem contribuir para a economia”.

Segundo o estudo “Refugiados: Um investimento humanitário que produz dividendos económicos”, “cálculos baseados em dados fornecidos pelo FMI sugerem que os custos iniciais no acolhimento de refugiados somados aos gastos de segurança social e subsídios de desemprego para os que continuem sem trabalhar vai fazer crescer a dívida pública em 68,8 mil milhões de euros entre 2015 e 2010”. Durante o mesmo período, no conjunto de 14 países europeus analisados, “o PIB acumulado será 126,6 mil milhões de euros maior”.

Números são números mas as políticas fazem toda a diferença. Permitir que os refugiados trabalhem enquanto decorrem os seus processos de pedido de asilo é importante. Um acesso rápido ao mercado de trabalho “reduz a dependência dos refugiados em relação aos subsídios públicos, garante que contribuem com o seu trabalho e os seus impostos para a economia que os acolhe e diminui as probabilidades de que sejam marginalizados do mercado de trabalho e da sociedade a longo prazo”, sublinha o relatório.

Não basta permitir que estas pessoas trabalhem, é importante disponibilizar cursos de línguas e alojamento em zonas com empregos (em vez de escolher colocá-los nas áreas onde isso é mais barato). Importante é também assegurar que as suas qualificações obtidas nos países de origem são reconhecidas – na Suécia, por exemplo, fazem falta farmacêuticos e isso já teria sido resolvido com um reconhecimento dos farmacêuticos sírios no país.

“Os refugiados que passam a ocupar postos de trabalho também os criam. Quando gastam os seus salários, aumentam a procura para aqueles que produzem os bens e os serviços que consomem”, lê-se no estudo. E também criam emprego de forma mais directa, “por exemplo, os refugiados que se tornam trabalhadores na construção criam empregos para as pessoas destes países que supervisionam esse trabalho ou que vendem materiais de construção”. Primeiro, há um aumento da procura económica, a mais longo prazo verifica-se um crescimento das receitas fiscais e a criação de novos empregos.

O estudo analisa dados actuais, os resultados obtidos em diferentes países com diferentes políticas face a refugiados vindos dos mesmos países e exemplos históricos, como a ida para os Estados Unidos de 800 mil vietnamitas a seguir à guerra do Vietname. E concluiu que quem faz as políticas e quem as executa “tem de deixar de considerar os refugiados como ‘um fardo’ e começar a realçar que são uma oportunidade bem-vinda”.

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