Índia prepara-se para ter o primeiro Presidente nacionalista hindu

A nomeação do novo chefe de Estado indiano é o culminar do processo promovido por Modi de encher os principais cargos públicos de defensores do nacionalismo hindu.

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Ram Nath Kovind deverá ser o próximo Presidente indiano Reuters/AMIT DAVE

Os deputados indianos preparam-se para escolher o próximo Presidente do país, nomeado pelo principal grupo nacionalista hindu, esta segunda-feira, ampliando o controlo das posições de poder pelo círculo conservador do primeiro-ministro, Narendra Modi.

A ascensão de Ram Nath Kovind ao cargo público mais elevado será a primeira de um líder proveniente do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), ou Associação Nacional de Voluntários, o mentor ideológico do partido de Modi, o Bharatiya Janata (BJP) e dos seus aliados.

Segundo a Constituição indiana, o primeiro-ministro e o Governo detêm o poder executivo, e o Presidente ocupa uma posição acima da competição política. Mas o Presidente tem também um papel crucial durante as crises políticas, como os casos em que uma eleição parlamentar é inconclusiva, ao decidir qual é o partido melhor posicionado para formar Governo.

Alguns Presidentes, como o actual, Pranab Mukherjee, tentaram actuar como guardiões da consciência, ao usarem a sua autoridade constitucional para defender os princípios fundadores da Índia, como o secularismo ou a democracia.

Kovind, 72 anos, um político da casta baixa Dalit que foi advogado do Governo no Supremo Tribunal e também governador estadual, assegurou que irá manter a dignidade do cargo de Presidente. “Desde que tomei posse como governador que não tenho filiação política. O Presidente da Índia está acima da política”, afirmou, enquanto apresentava a sua candidatura, em Junho.

O BJP tem apresentado Kovind como um candidato da casta Dalit mais baixa na hierarquia social hindu, que foi oprimida durante séculos, mas cujos votos são hoje ambicionados pelos partidos.

Vitória certa

A oposição diz que as raízes de Kovind no RSS, que há muito defende uma Índia hindu, são uma preocupação numa altura em que o Governo de Modi tem seguido um programa sectário e os extremistas hindus têm alimentado uma atmosfera de medo entre as minorias do país.

Meira Kumar, a candidata da oposição apoiada pelo partido do Congresso e pelos comunistas, disse que a sua candidatura tem o objectivo de combater a ideologia que Kovind representa. “Esta é uma eleição para o cargo mais elevado do país”, afirmou. “Respeito Kovind, a minha luta não é contra ele, mas sim contra a ideologia que ele representa.”

A vitória de Kovind é vista como certa, uma vez que o colégio eleitoral – composto pelos membros das duas câmaras do Parlamento federal e das assembleias estaduais – é favorável ao BJP. A votação é feita na segunda-feira e os votos são contados na quinta.

A eleição de Kovind é a mais recente de uma série de nomeações feitas por Modi, com o objectivo de consolidar o controlo da direita hindu sobre os cargos públicos, tais como os de ministros-chefe estatais e governadores, e também em instituições académicas e grupos de reflexão.

Em Março, Modi escolheu o extremista hindu Yogi Adityanath – que foi acusado de incitar violência contra a minoria muçulmana indiana – para governar o estado mais populoso do país, Uttar Pradesh, após a vitória esmagadora do seu partido.

Um propagandista de longa data do RSS governa o estado de Haryana, vizinho de Deli e sede da indústria global de outsourcing, enquanto outros governadores participaram nas sessões de treino patriótico que o RSS organiza por todo o país.

Um conhecimento dos ensinamentos do RSS, famoso pelos seus serviços ao país, só pode ajudar os detentores de cargos públicos, disse à Reuters um editor de um órgão de propaganda da organização. “Um swayamsevak pensa na pátria e na unidade da sociedade. Qualquer pessoa identificada com esta ideologia deve ser muito respeitada”, disse o editor do Panchjanya, Hitesh Shankar.

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