Imigração para o Reino Unido desacelera com "Brexit" em pano de fundo

São as primeiras estatísticas que já incluem o período pós-referendo à UE. Quase 40 mil cidadãos de Leste deixaram o Reino Unido em 2016.

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Pela primeira vez desde 2014, o saldo migratório ficou abaixo das 300 mil pessoas Luke MacGregor/Reuters

A imigração para o Reino Unido desacelerou em 2016, segundo as primeiras estatísticas divulgadas pelas autoridades britânicas que já incluem os meses que se seguiram ao referendo à União Europeia, em Junho do ano passado. Um recuo para o qual contribuiu um aumento significativo do número de cidadãos dos países do Leste da Europa que deixaram o país.

De acordo com o gabinete de estatística britânico (ONS), o saldo migratório (diferença entre o número de entradas e saídas no país) nos 12 meses anteriores a Setembro de 2016 rondou as 273 mil pessoas, menos 49 mil do que no ano anterior. Um valor que contrasta com os números recorde registados nos últimos dois anos, mas que continua a ser quase o triplo do objectivo várias vezes fixado pela actual primeira-ministra, Theresa May, que quer a imigração abaixo da fasquia das cem mil pessoas.

As estatísticas revelam que a queda no saldo migratório resultou tanto da diminuição do número de pessoas que imigraram para o país (596 mil), como do aumento das que saíram (323 mil). Entre Outubro de 2015 e Setembro do ano passado, a imigração oriunda da UE registou um saldo positivo de 165 mil pessoas, menos seis mil do que no ano anterior, tendo ficado pela primeira vez desde que há registo acima do valor da imigração extracomunitária (164 mil, menos 28 mil pessoas), sublinha o jornal Telegraph. Neste último grupo destaca-se a redução do número de vistos atribuídos aos estudantes vindos de fora da UE (menos 31 mil), demonstrando os efeitos das regras mais apertadas definidas pelo actual e anterior executivos.

Seja por causa da melhoria das condições económicas nos países de origem ou da retórica anti-imigração que marcou a campanha e o rescaldo do referendo, as estatísticas revelam que há menos cidadãos dos oito países de Leste que aderiram à UE em 2004 (caso da Polónia ou Hungria) a chegar ao Reino Unido. E, em simultâneo, disparou o número dos que estão a regressar aos seus países – ao todo foram 39 mil, mais do triplo do que nos 12 meses anteriores.

Nicola White, responsável pelas migrações no ONS, ressalva, porém, “que é ainda demasiado cedo para apurar o efeito do referendo na imigração de longo prazo”, tanto mais que se registou um valor recorde de chegadas oriundas da Roménia e Bulgária (74 mil), países que só aderiram à UE em 2007.

Estes dados representam uma boa notícia para May, sob forte pressão dos eleitores para pôr cobro à livre circulação de pessoas nas negociações que vai iniciar em breve para a saída da UE. O Governo ainda não definiu que modelo de imigração pretende adoptar, mas as estatísticas indiciam que qualquer que seja a escolha, a redução pode não ser tão grande como deseja – 65% das pessoas que entraram no país com o objectivo de trabalhar já tinham contrato no momento da chegada.  

 

 

 

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