Identificado um dos quatro terroristas de Paris ainda em fuga

ADN de Najim Laachraoui, conhecido como Soufiane Kayal, foi encontrado em duas casas e em material explosivo. Autoridades continuam a interrogar Salah Abdeslam, cujo testemunho pode ser "uma mina de ouro", diz o seu advogado. Isto, se não for extraditado para França.

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Novas fotos divulgadas pela polícia belga AFP/Polícia Belga
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Esta era a única fotografia conhecida de Laachraoui Najim AFP/Polícia Belga

A polícia belga conseguiu descobrir a verdadeira identidade de um dos cúmplices ainda em fuga de Salah Abdeslam, um dos participantes nos ataques de Novembro de Paris que foi capturado na sexta-feira em Bruxelas. Através de vestígios de ADN recolhidos, ficou a saber-se que o homem conhecido até agora como Soufiane Kayal é na verdade Najim Laachraoui, de 24 anos, que não só ajudou a planear os atentados bombistas, como terá ajudado a preparar os explosivos.

Laachraoui, nascido a 18 de Maio de 1991, partiu para a Síria em Fevereiro de 2013, diz um comunicado da procuradoria federal belga, que não precisa a nacionalidade do suspeito ainda em fuga. Foi com o nome falso de Soufiane Kayal que alugou uma casa em Auvelais, a cerca de 60km da fronteira francesa, a partir de onde foram preparados os atentados de Paris, bem como um apartamento em Schaerbeek, na região de Bruxelas, que “foi usado pelo grupo terrorista”, dizem as autoridades.

Os dois locais foram há meses alvo de buscas, e neles foram encontrados “vestígios de ADN de Najim”, bem como impressões digitais de Abdeslam. O ADN de Najim Laachraoui foi também detectado nos restos dos cintos explosivos usados nos atentados em Paris, diz a AFP. O procurador federal belga, Frédéric van Leeuw, e o procurador de Paris, François Molins, deram uma conferência de imprensa conjunta em Bruxelas nesta segunda-feira, mas não avançaram mais pormenores sobre a investigação a decorrer.

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O momento da prisão de Salah Abdesalam em Molenbeek, na sexta-feira VTM/REUTERS

Sabe-se, no entanto, que Laachraoui foi identificado num controlo de fronteira a 9 de Setembro de 2015, ao passar da Áustria para a Hungria num Mercedes em que viajavam também Salah Abdeslam e Mohamed Belkaid – um argelino de 35 anos que foi morto pela polícia belga nas aparatosas operações na comuna de Forest, na terça-feira. Nesse dia, sabe-se agora, Abdeslam estava escondido numa casa na Rue du Dries, em Forest, mas conseguiu escapar, fugindo pelos telhados, diz o Le Monde. Suspeita-se que Belkaid tenha sido o destinatário do sms enviado por um dos homens que atacaram o Bataclan a 13 de Novembro e que dizia: “Já partimos, vamos começar.”

Telefonema de Forest

Em Forest, tudo começou com a verificação de um apartamento que os investigadores franco-belgas acreditavam que estaria vazio. Mas lá dentro estava Abdeslam, o homem mais procurado da Europa, e desencadeou-se um tiroteio de várias horas. A sua presença foi confirmada dois dias mais tarde, através de uma impressão digital num copo.

No entanto, foram os telefonemas que Abdeslam fez ainda da zona de Forest para amigos a pedir que lhe arranjassem um novo abrigo que levaram as autoridades a localizá-lo em Molenbeek, um bairro pobre de Bruxelas, com uma grande maioria de população imigrante muçulmana, e por onde passaram muitos dos terroristas que cometeram os atentados de Paris. Tinha-se refugiado numa casa da Rua dos Quatro Ventos, que pertencia à mãe de Abid Aberkan. Existe então a possibilidade de Salah Abdeslam ter estado escondido na zona de Bruxelas durante quatro meses.

Para além de Najim Laachraoui, estão em fuga três outros terroristas. Um deles é Mohamed Abrini, um marroquino-belga de 31 anos que é apontado como o condutor do Renault Clio preto usado nos atentados. Trabalhou durante muito tempo em Molenbeek e suspeita-se que esteve na Síria em 2015. Tem várias condenações por roubo e tráfico de droga. Foi filmado a 11 de Novembro, dois dias antes dos ataques, numa estação de serviço, num carro com Abdeslam.

Os outros são os irmãos Khalid e Ibhraim el Bakraoui, procurados por terem alugado, sob nome falso, um apartamento em Charleroi, no Sul da Bélgica, para um dos terroristas que se fizeram explodir em Paris.

Essencial para a investigação é a posição que Salah Abdeslam assumir. O seu advogado, Sven Mary – um experiente penalista com fama de defender clientes que mais ninguém quer defender, como Michel Lelièvre, o homem de mão do assassino em série e pedófilo Marc Dutroux –, garante que está disposto a colaborar e que os seus depoimentos podem ser "uma mina de ouro". Mas isso tem um preço: não ser extraditado para França.

O advogado pretende apresentar queixa contra o procurador de Paris, François Molins, por este ter revelado pormenores das declarações iniciais de Abdeslam. Molins disse que “o suspeito queria fazer-se explodir junto ao Estádio de França”, “mas fez marcha atrás” e depois, para se redimir, “queria fazer qualquer coisa em Bruxelas”. Ainda nas suas declarações de sábado, o magistrado francês considerou que, “nesta fase das investigações, Abdeslam parece ter tido um papel central na constituição dos comandos de 13 de Novembro, na preparação logística dos atentados, e, enfim, por estar presente em Paris”.

Na conferência de imprensa conjunta em Bruxelas com o seu colega Frédéric van Leeuw, imperou a visão belga da necessidade do respeito pelo segredo enquanto decorrem as investigações e enquanto há suspeitos a monte.

 

 

 

 

 

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