Hotel suíço acusado de anti-semitismo após avisos a hóspedes judeus

Governo de Israel protesta contra "acto de anti-semitismo do pior e do mais feio".

Foto
Grande parte dos hóspedes do Paradies eram judeus ortodoxos provenientes de Israel Reuters/DARREN ORNITZ

Uma unidade hoteleira de Arosa, nos Alpes suíços, enfrenta uma queixa oficial do Governo de Israel e uma onda de críticas através das redes sociais depois de ter afixado avisos para os seus hóspedes judeus, pedindo-lhes que tomassem banho antes e depois de utilizar a piscina e que não usassem o frigorífico fora de um horário estabelecido.

“Por favor, tomem banho antes de entrar na piscina e depois de mergulharem”, lia-se num aviso afixado no aparthotel Paradies, posteriormente fotografado e amplamente partilhado nas redes. 

“Caso quebrem as regras, somos obrigados a encerrar a piscina para vocês”, acrescenta o aviso, assinado pela gerente Ruth Thomann. 

Segundo o jornal britânico The Guardian, foi colocado um segundo aviso na cozinha do estabelecimento, visando novamente os hóspedes judeus, estabelecendo que estes só poderiam utilizar o frigorífico entre as 10h e as 11h e as 16h30 e as 17h30. “Espero que compreendam que a nossa equipa não gosta de ser perturbada a toda a hora”, lia-se.

O episódio motivou uma queixa da ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel, Tzipi Hotovely, junto da unidade hoteleira suíça. Telavive classifica o incidente como “um acto de anti-semitismo do pior e do mais feio”.

O embaixador de Israel na Suíça, Jacob Keidar, entrou também em contacto com o estabelecimento, que entretanto garantiu que os avisos já foram retirados. No entanto, o Governo israelita exige que os responsáveis sejam condenados formalmente pela Suíça.

Um porta-voz do Governo helvético disse ao diário britânico que Berna esteve em contacto com o diplomata hebraico, a quem foi garantido que "a Suíça condena o racismo, anti-semitismo e a discriminação em todas as suas formas”.

Uma má escolha de palavras

Ruth Thomann, a gerente que assina os avisos, disse ao Guardian que não é anti-semita, mas admitiu que cometeu “um erro”.

“Escrevi algo ingénuo naquele aviso”, admitindo que era preferível referir-se a todos os hóspedes do estabelecimento e não apenas aos judeus.

Ao Times of Israel, o hotel explica que os hóspedes hebraicos tinham sido directamente visados pelo facto de muitos judeus ortodoxos frequentarem o estabelecimento, utilizando o frigorífico em causa para guardar comida kosher (preparada de acordo com o preceito judaico). Já o sinal relativo à piscina foi afixado depois “de duas jovens judias terem entrado na piscina sem tomar banho, ignorando os sinais afixados para todos os hóspedes”, justifica o estabelecimento.

Na terça-feira, o Centro Simon Wiesenthal, organização internacional contra o anti-semitismo, pediu em comunicado o encerramento do “hotel de ódio” e a condenação judicial da gerência do estabelecimento. Numa carta, o centro pede ainda à plataforma de alojamento Booking que elimine do seu site o aparthotel Paradies.

O pedido foi aceite. Em resposta, um porta-voz daquela plataforma afirmou: “Nós não toleramos a discriminação de nenhum tipo. Podemos confirmar que a propriedade em questão já não está disponível no nosso site”.

Ao Channel 2, um canal israelita, um hóspede hebraico contou que os funcionários do estabelecimento tinham sido “muito simpáticos”, acrescentando que ficaram chocados com os avisos. “Foi muito estranho, nunca tínhamos estado expostos a um episódio de anti-semitismo como este”, acrescentou citado pelo The Telegraph.

O caso gerou revolta nas redes sociais, com inúmeros utilizadores a considerarem o episódio “terrível” e “inaceitável”.

“A parte do ‘obrigado pela compreensão’ é o que mais me toca. Não, eu não compreendo nada disto”, escreveu um utilizador. Já um hóspede do aparthotel fez questão de responder com um aviso afixado sobre a nota do Paradies: “Eu não sou um hóspede judeu e considero isto muito racista”, lê-se num pequeno papel colocado em cima do aviso original.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários