A dias do Europeu, a França é lembrada de que não é só alvo do terrorismo islâmico

Ultranacionalista francês foi detido na Ucrânia com um autêntico arsenal de guerra. Queria atacar o seu país pela "política de imigração e alastramento do islão".

As imagens da detenção do francês que planeava atentados durante o Euro 2016

Existe um receio palpável entre os franceses de que o seu país será alvo de um novo atentado terrorista em breve. O país está em estado de emergência desde os ataques de Novembro em Paris e o próprio Presidente admite que existem ameaças à segurança nacional e que elas se vão prolongar “durante muito tempo”. Há "90 mil pessoas afectas à segurança" do Campeonato Europeu de Futebol, explicou François Hollande no domingo, tentando aplacar os receios de segurança num país que está também acossado por greves violentas e cheias na capital. 

O terrorismo islâmico é a ameaça mais evidente para o Euro 2016, mas não é a única. Nos últimos dias de Maio, Grégoire M. foi capturado pelos serviços secretos ucranianos quando tentava cruzar a fronteira com a Polónia. Seguia em direcção à cidade de Lublin, tentando aproveitar aquele que é oficialmente o posto de controlo “mais corrupto” da Ucrânia. Viajava com um autêntico arsenal de guerra, que acumulara desde que chegara ao país e queria usar em França para atacar pelo menos 15 alvos, antes e durante o Europeu. Queria atingir pontes, estações de comboio, repartições de finanças, sinagogas e mesquitas.

Grégoire não é um radical islâmico, mas um ultranacionalista francês alarmado com “as políticas de imigração do seu Governo, o alastramento do islão e a globalização”, como explicaram esta segunda-feira os serviços secretos ucranianos, anunciando pela primeira vez a detenção e reavivando receios de um atentado durante o campeonato, que arranca sexta-feira. Grégoire M. nunca representou muito perigo, visto que já estava sob o olho das autoridades desde que chegou à Ucrânia, em Dezembro, prometendo ajudar os paramilitares ucranianos no combate aos separatistas no Leste do país.

“Prometeu ajudar, mas mostrou-se cada vez mais interessado em comprar armas e explosivos”, contou aos jornalistas Vassyl Hrytsak, chefe dos serviços secretos, que só começaram a acreditar que ele representava perigo quando começou a acumular milhares e milhares de euros. Desde Dezembro, e no curso de várias viagens entre a França e a Ucrânia, Grégoire comprou 250 mil euros de armas: espingardas automáticas Kalashnikov, mais de cinco mil munições, dois lança-rockets antitanque, 125 quilos de dinamite, perto de cem detonadores e várias granadas. As autoridades não afastam a ideia de Grégoire trabalhar com redes de tráfico de armas e procuram por possíveis cúmplices. 

Grégoire não estava entre os milhares de suspeitos de radicalização nas bases de dados dos serviços de segurança franceses, como aconteceu com muitos dos jihadistas que participaram nos atentados de 2015. Também não pertencia a círculos conhecidos de extremistas ou foi tocado pelas centenas de rusgas e detenções domiciliárias que depois de Novembro do ano passado atingiram sobretudo a comunidade muçulmana em França. O seu perfil, aliás, dificilmente podia estar mais afastado do arquétipo de suspeito radical que por esta altura já está enterrado na psique europeia.

Grégoire é branco, trabalha numa cooperativa agrícola, vive numa aldeia com 80 habitantes e parecia ser “um miúdo muito agradável”, como explicava esta segunda-feira o autarca de Nant-le Petit, Dominique Pensalfini-Demorise. As palavras do próprio chefe dos serviços secretos ucraniano denunciam alguma surpresa. “Ao princípio pensávamos que fizesse parte de uma organização terrorista clássica. Mas acabámos por nos deparar com uma organização em França que está descontente com o poder e quer organizar uma série de atentados durante o Euro”, afirmou Hrytsak, que nada adiantou sobre a possível extradição de Grégoire, ainda detido na Ucrânia.

Em Maio, o director dos serviços de segurança franceses, Patrick Calvar, alertava o Parlamento para a necessidade de se mobilizarem mais recursos para a vigilância de grupos ultranacionalistas. Fê-lo sob a perspectiva de que o sentimento islamofóbico e xenófobo em França se pudesse agravar com “um ou dois novos ataques” em solo europeu e provocar confrontos entre nacionalistas e a comunidade muçulmana. “A Europa está em grande perigo: os extremismos crescem em todo o lado e, por isso, nós, os serviços internos, estamos a mobilizar-nos por estarmos interessados na ultradireita que aguarda pela confrontação”, disse. 

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