Homem morto pela polícia em Paris tinha papel com bandeira do Estado Islâmico

Trazia uma faca e gritou “Allahu Akbar". Suspeitou-se que tivesse um colete de explosivos, mas não era verdadeiro.

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Foi montada uma enorme operação policial Philippe Wojazer/REUTERS
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A circulação foi cortada em vários sentidos Charles Platiau/REUTERS
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O homem estava armado com uma faca Charles Platiau/REUTERS
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O corpo do atacante ficou durante mais de uma hora na rua, enquanto se determinava se tinha explosivos ou não ANNA POLONYI/AFP

Um homem foi morto pela polícia ao tentar forçar a entrada numa esquadra do 18.º bairro de Paris, armado com uma faca, no dia do aniversário do atentado contra o semanário satírico Charlie Hebdo, em 2015, quando os irmãos Chérif e Said Kouachi mataram 12 pessoas. Trazia um papel com a bandeira do grupo Estado Islâmico e um texto em árabe, em que reivindicava o ataque para o líder El-Baghdadi, revelou a procuradoria de Paris.

O indivíduo morto pela polícia gritou Allahu Akbar (“Deus é grande”, em árabe), relatou um porta-voz do Ministério do Interior francês. Fez ameaças e feriu o funcionário da esquadra que estava na recepção. Os agentes ripostaram a tiro.

Suspeitou-se que o homem tivesse um cinto de explosivos — as suas roupas foram examinadas pela brigada de minas e armadilhas, que enviou um robô para as analisar. Mas concluíram tratar-se de um falso alarme. A jornalista Anna Polonyi assistiu ao que se passou da sua janela e colocou fotos nas redes sociais que mostram o corpo com o que estas máquinas, relatou a Reuters.

“Ele tinha de facto um cinto, mas era falso”, disse fonte do sindicato da polícia à Reuters. Era uma espécie de bolso cosido na camisola, com uns fios soltos, para fazer de conta que era uma bomba.

“Gritou Allahu Akbar e tinha fios a sair das roupas. Foi por isso que os agentes dispararam”, justificou esta fonte sindical. Mas não conseguiu sequer entrar na esquadra - foi morto antes de entrar. Não trazia qualquer documento de identificação, mas tinha um telemóvel, que televisão BFM diz ter registos de comunicações em árabe e com a Alemanha.

A BFM diz que o atacante era um marroquino de 20 anos, nascido em Casablanca, identificado graças às suas impressões digitais como Sallah Ali, o nome com que consta nos ficheiros policiais por uma denúncia por violação em 2013. A polícia, no entanto, não confirma este nome.

A esquadra fica no bairro da Gota de Ouro – uma das zonas mais cosmopolitas e multiétnicas de Paris, com muita população africana. O bairro foi cercado por um destacamento de polícia fortemente armado, foram encerradas as escolas mais próximas e cortado o trânsito nas proximidades da esquadra. A circulação do Metro esteve interrompida

Reforço de segurança

O ataque aconteceu minutos depois de o Presidente François Hollande ter feito um discurso perante as forças de segurança, noutra zona de Paris, evocativo do atentado contra o Charlie Hebdo e contra o supermercado judaico (quatro mortos) de há um ano. Exigiu uma “coordenação perfeita" entre os serviços de segurança franceses na luta contra o terrorismo. "Face a estes adversários, é essencial que todos os serviços – polícia, gendarmerie, serviços de informações e militares – trabalhem em perfeita cooperação, com a maior transparência, e que partilhem toda a informação de que dispõem", disse Hollande, citado pela agência Lusa.

Hollande chamava a atenção para a descoordenação entre as várias forças e serviços de informação posta em evidências nos atentados de Janeiro de 2015 e também nos de Novembro (130 mortos). A viúva de um dos polícias destacado para proteger Charb, um dos cartoonistas do Charlie mortos no ano passado, e que também foi assassinado, iniciou um processo judicial há poucos dias contra o Estado, denunciado as “falhas” que considera que levaram ao “sacrifício” do seu marido, noticia a AFP.

Na verdade, o Governo socialista está a preparar todo um pacote de reforço de segurança, com o qual pretende substituir as medidas excepcionais do estado de emergência declarado após os atentados de Paris de 13 de Novembro, que deve terminar no fim de Fevereiro. Segundo o jornal Le Monde, está em elaboração um projecto de lei que modifique o Código Penal para combater de “forma mais eficaz” o crime organizado e o terrorismo.”

Em causa estão medidas como o alargamento das situações em que a polícia pode usar armas de fogo – algo reclamado há muito pelas forças da ordem –, bem como o aumento das situações em que é possível revistar pessoas e bens e fazer buscas nocturnas.

Christiane Taubira, a ministra da Justiça, que em Dezembro se tinha manifestado contra esta “deriva securitária” – nomeadamente, numa visita oficial à Argélia, em que tinha criticado violentamente a ideia de retirar a nacionalidade aos cidadãos franceses com dupla nacionalidade condenados por terrorismo – parecia ter alinhado no discurso oficial. Assinou juntamente com o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, um artigo no Le Monde desta quinta-feira, em defesa dos meios da polícia e da justiça na luta contra o terrorismo e a criminalidade organizada. Mas à noite, numa entrevista na televisão iTelé, afirmou que “retirar a nacionalidade não é uma medida desejável”.     

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