Hollande em discussão com os franceses na televisão

Emprego, terrorismo e radicalização dos jovens, imigração: o Presidente respondeu a perguntas de franceses, para tentar recuperar a sua imagem.

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François Hollande fez o balanço do seu mandato com as perguntas dos cidadãos STEPHANE DE SAKUTIN/AFP

François Hollande foi à televisão submeter-se a perguntas de cidadãos, para tentar melhorar a sua imagem, que caiu para profundezas nunca vistas – oito em cada dez franceses não querem que se recandidate à Presidência em 2017. Mas, em vez de “diálogos cidadãos”, como diz o nome do programa da France 2, as questões colocadas a Hollande tornaram-se discussões com o Presidente.

A elevada taxa de desemprego dos jovens (25%), os “quatro meses perdidos com um debate estéril” sobre a retirada da nacionalidade francesa aos condenados por terrorismo – ideia que foi abandonada – foram alguns dos temas com os quais foi confrontado. Sobre os refugiados, afirmou ter a mesma filosofia de acolhimento que a chanceler Angela Merkel. “Está a brincar?”, cortou a jornalista Léa Salamé. “Ela recebeu um milhão de pessoas, nós 30 mil”. Hollande respondeu que “os refugiados é que escolheram” ir para a Alemanha.

Antoine de Meyer, que já foi eleitor do PS e agora diz que vai votar em Marine Le Pen, é camionista na região Norte-Pas de Calais e indigna-se com os imigrantes que tentam passar para o Reino Unido. E com as ajudas que o Estado dá aos imigrantes. “Nós também precisamos destas ajudas. Não as podem reduzir?” Hollande explicou-lhe que só quem pede asilo em França tem direito a apoio económico. “Quem está em Calais sem pedir asilo não tem direito.”

Anne-Laure Constanza tem uma empresa de roupa para grávidas, criou 200 empregos, e quer crescer, abrir mais postos de trabalho. Mas queixa-se, com fervor, de que o Governo impôs limitações aos contratos temporários, a tempo parcial e também à contracção de estagiários. “A lei foi feita para os grandes, não encoraja os empresários que contratam, não ajuda o crescimento”, queixou-se.

“O número de estagiários nas empresas com menos de 50 funcionários foi limitado a três, porque havia abusos”, explicou-lhe Hollande. E foi criada uma sobretaxa nos contractos temporários para encorajar as contratações a tempo ilimitado, adiantou – hoje, em França, 85% das novas contratações fazem-se neste regime. “Tem razão, é preciso dar estabilidade aos empresários, mas também aos trabalhadores.”

Outro tema foi os dos jovens que seguem a via do terrorismo, como o filho de Verónique Roy, que se converteu ao Islão e morreu em Janeiro numa operação suicida do Estado Islâmico. “Os nossos filhos não nasceram jihadistas. Tornaram-se. O que é que fez esta juventude desiludida partir para a morte?”, perguntou a Hollande esta mãe de Seine-Saint-Denis, nos arredores de Paris. Ele disse-lhe que foram expulsos "80 pregadores do ódio", e falou-lhe na Internet, ela rebateu: “A Internet confirma a radicalização. Há lá propaganda, bem feita, mas tudo começa na vida real”, interpela-o, num diálogo desconfortável para o Presidente.

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