"Hoje à mesma hora", o novo grito de guerra da oposição na Venezuela

Grande manifestação de quarta-feira arrastou-se até quinta-feira, com os opositores a tentarem manter os protestos nas bocas do mundo. Três mortos e mais de 500 detidos no primeiro dia.

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Morreram três pessoas no primeiro dia de manifestações MIGUEL GUTIERREZ/EPA
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Henrique Capriles, um dos líderes da oposição CRISTIAN HERNANDEZ/EPA
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Apoiantes de Maduro também se manifestaram a favor do chavismo Cristian Hernández/EPA
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O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro Reuters
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Manifestante ferido em San Cristóbal Carlos Eduardo Ramirez/Reuters

A ideia é voltar às ruas de Caracas "hoje, à mesma hora e nos mesmos sítios", disse o principal líder da oposição na Venezuela, Henrique Capriles. Numa mensagem partilhada no Twitter que deverá ser repetida nos próximos tempos, Capriles tentou galvanizar os venezuelanos que querem ver Nicolás Maduro pelas costas, aproveitando o impacto internacional da manifestação de quarta-feira.

Henrique Capriles já foi visto como o líder mais moderado no complexo mosaico da oposição venezuelana, mas hoje em dia é comum vê-lo nas ruas a gritar frases muito duras contra o Governo de Nicolás Maduro. E a incitar a população a fazer um esforço final para realizar o seu sonho: o fim do regime socialista bolivariano inaugurado por Hugo Chávez.

"A ordem de repressão hoje, 20 de Abril, é para eles serem mais selvagens do que ontem! Estejam atentos! Contra mais repressão, mais Constituição", dizia Henrique Capriles ao mesmo tempo que partilhava nas redes sociais as várias notícias que chegaram às primeiras páginas de jornais de todos o mundo.

Com o outro grande rosto da oposição, Leopoldo López, fora de combate, depois de ter sido condenado a 14 anos de prisão, Henrique Capriles encarrega-se de dizer à Venezuela e ao mundo que está quase – quem o ouve falar fica convencido de que é desta que Maduro cai.

A grande manifestação convocada para quarta-feira tornou-se violenta em pouco tempo, mas a ordem na oposição foi para voltar às ruas quinta-feira. No primeiro dia daquilo que a oposição espera ser o início de uma vaga de manifestações morreram três pessoas, centenas ficaram feridas e mais de 500 foram detidas.

Desde o início do mês morreram nove pessoas – os protestos são comuns, mas grandes manifestações como as de quarta e quinta-feira são mais esporádicas. Em 2014, milhares estiveram nas ruas durante três meses, mas o Governo da Venezuela acabou por conseguir refrear os protestos, depois de terem morrido 43 pessoas. A oposição espera que esta semana tenha marcado o início de outro protesto pelo menos com as mesmas dimensões.

Perguntas e Respostas sobre a situação na Venezuela

As autoridades garantiram que vão investigar todos os casos, e até agora foi detido um suspeito – Iván Pérez foi acusado de ter disparado contra Paola Gómez, de 22 anos, que morreu com um tiro em San Cristóbal. Horas antes, Carlos Padrón, de 17 anos, tinha sido morto com um tiro na cabeça, em Caracas. O terceiro morto no dia da "mãe de todas as manifestações" – como lhe chamou a oposição – foi o segundo sargento Neumar Barrios, da Guarda Nacional Bolivariana.

As investigações ainda estão a decorrer, mas há agora indícios de que as duas vítimas civis não estavam a manifestar-se contra o Governo de Nicolás Maduro. O irmão do jovem que morreu em Caracas disse que ele tinha saído de casa para jogar futebol, e que terá sido atingido por disparos dirigidos à zona onde os manifestantes estavam concentrados; já Paola Gómez foi perseguida por motociclistas (numa indicação de que poderia ter sido morta pelos "colectivos", acusados de atacarem manifestantes da oposição). Mas o director da agência governamental de defesa dos direitos humanos, Tarek William Saab (líder do antigo Movimento Quinta República de Hugo Chávez), disse que a rapariga terá sido morta por uma pessoa que estava a disparar contra esses motociclistas.

O objectivo da oposição é manter centenas de milhares de pessoas nas ruas de Caracas, para dar ainda mais visibilidade internacional à sua luta e pressionar as autoridades venezuelanas, pelo menos, a marcarem finalmente a data das eleições para os governos locais – essas eleições deveriam ter sido realizadas no ano passado, mas os opositores dizem que Maduro teve receio de voltar a ser derrotado, tal como aconteceu nas legislativas de Dezembro de 2015.

Da agenda da oposição fazem parte várias exigências, que muito dificilmente serão satisfeitas pelo Governo venezuelano por mais pressões que cheguem de fora: Maduro jura aos seus apoiantes que o que está em curso é uma tentativa de golpe de Estado por parte dos interesses económicos da direita capitalista, a mando e com a cobertura dos Estados Unidos. Do outro lado, os vários partidos que lutam contra Maduro acusam-no de ter atirado a Venezuela para um buraco, principalmente depois da queda dos preços do petróleo, em 2014, que expôs aquilo que dizem ser a fragilidade do financiamento dos programas de assistência social do chavismo. Segundo a oposição, muitos venezuelanos têm hoje dificuldades para comprar alimentos e medicamentos porque a economia do país há muito que deixou de ganhar para os gastos, as dívidas acumulam-se e Nicolás Maduro foi-se transformando num líder autocrata para se perpetuar no poder.

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