Governo evita quantificar custos de integração para não alimentar ‘fantasma’ da xenofobia

O número de emigrantes e lusodescendentes a regressar da Venezuela para a Madeira deverá aumentar nas próximas semanas, mas tanto o Funchal como Lisboa preferem não quantificar os custos, a bem da paz social.

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Existe um entendimento entre Miguel Albuquerque e António Costa, para que a integração dos cerca de quatro mil emigrantes e lusodescendentes que regressaram da Venezuela para a Madeira, deixe de ser quantificada em euros. LUSA/GREGÓRIO CUNHA

Existe um entendimento entre o Funchal e Lisboa, para que a integração dos cerca de quatro mil emigrantes e lusodescendentes que regressaram da Venezuela para a Madeira, deixe de ser quantificada em euros.

A ideia, explicou ao PÚBLICO fonte do gabinete do secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus, Sérgio Marques, que tutela as comunidades, é prevenir eventuais comportamentos xenófobos que possam surgir, numa altura em que o arquipélago ainda não saiu totalmente da crise económica e nas esplanadas e ruas do Funchal, ouve-se cada vez mais sotaque espanhol.

Os números, dos que estão inscritos no centro de emprego, dos que entraram para a fila da habitação social, daqueles que encontraram nas farmácias e centros de saúde o que já não havia na Venezuela, ou dos que engrossaram a folha de pagamento da segurança social, são conhecidos pelas autoridades regionais. “Estão identificados e contabilizados e farão parte do relatório a entregar ao Governo da República”, adiantou a mesma fonte, explicando que mais importante do que falar de custos, é trabalhar para acolher estes conterrâneos.

Esta segunda-feira, à margem de uma visita de trabalho a uma obra de reabilitação urbana, o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, reforçava essa ideia: não interessa falar de quantos cá estão, mas sim de dar condições para integrá-los.

“Não preciso de estar a enumerar o número de tratamentos e de apoios que estão a ser dados ao nível do Sistema Regional de Saúde, nem como o número de cidadãos da Venezuela que estão inscritos no Instituto de Emprego”, disse aos jornalistas, admitindo, que nos últimos meses, por conta da situação naquele país, onde existe uma numerosa comunidade madeirenses – estimam-se que dos 500 mil portugueses e lusodescendentes que lá vivem, dois terços tenham raízes na Madeira – verificou-se um aumento em indicadores como tratamentos médicos e subsídios sociais. Isto, continuou, implica um esforço de solidariedade nacional, porque tem implicações e custos no orçamento regional.

Mas, repetiu, mais importante é apoiar as pessoas que chegam e que vão continuar a chegar. “Vamos continuar a fazer tudo para apoiá-los na integração na terra que também é deles”, garantiu Albuquerque, acrescentando que a expectativa das autoridades regionais é que o movimento de regresso se intensifique durante o Verão, com o fim do ano escolar venezuelano.  

Uma realidade que Ana Cristina Monteiro, presidente da Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira (VENECOM), conhece bem. Nas últimas semanas, contabiliza ao PÚBLICO, têm chegado à associação dezenas de pedidos de informação de pessoas que querem voltar. “Algumas têm já voo marcado para a próxima semana”, diz, explicando que embora o sentimento “generalizado” seja o de poder regressar à Venezuela, logo que a situação melhore, existe a “convicção” que a instabilidade política e social está para durar nas ruas das principais cidades.

Por isso, Albuquerque, defendia segunda-feira, a necessidade das autoridades portuguesas e venezuelanas trabalharem em conjunto, para que o Estado possa ajudar os portugueses em dificuldade que não podem ou não conseguem sair. Uma espécie de “corredor humanitário”, que permita entregar bens de primeira necessidade e medicamentos, aqueles que precisam. 

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