Forças iraquianas capturam centro de Falluja ao Estado Islâmico

Jihadistas bateram em retirada para os bairros ocidentais da cidade e abriram as portas à fuga de milhares de pessoas.

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Os avanços urbanos estão a cargo de uma aliança de várias forças leais a Bagdad. MOADH AL-DULAIMI/AFP

As forças iraquianas conquistaram esta sexta-feira o complexo governamental de Falluja e grande parte do centro da cidade ao Estado Islâmico, naquele que é o avanço militar mais inesperado e significativo desde que começou a batalha para reconquistar a cidade aos jihadistas, há já quase quatro semanas. 

O complexo governamental alberga um grande conjunto de edifícios públicos, onde se situam a esquadra da polícia e tribunais, por exemplo. Há ainda um número considerável de combatentes do Estado Islâmico nas ruas, pelo que as forças iraquianas ainda não declararam ter controlo total sobre Falluja, embora tenham cercado também esta sexta-feira o edifício hospitalar que os extremistas têm usado como comando militar.

“Esperamos que nos próximos dias consigamos limpar os militantes de toda Falluja”, anunciou Yahya Rasool, porta-voz do comando militar iraquiano, num comunicado. Raed Shaker Jawdat, chefe da polícia, vai mais adiante e diz à AFP que “a libertação do complexo governamental, o principal marco da cidade, simboliza a restauração da autoridade do Estado”.

A conquista da zona urbana de Falluja está a cargo de uma aliança entre as forças de elite de antiterrorismo, exército, polícia e tribos sunitas locais, que avançam desde o Sul da cidade. A campanha sofreu atrasos ao longo da última semana, muito graças às ruas armadilhadas com explosivos improvisados e aos milhares de civis ainda aprisionados na cidade, que o Estado Islâmico tem usado como escudo humano.

Mas os jihadistas parecem ter batido em retirada para a zona Oeste da cidade já na quinta-feira. Ao longo da manhã, aliás, exército e polícia fizeram grandes avanços nos bairros do Sul e Este. Segundo Jawdat as forças iraquianas só se depararam com “resistência limitada” e estavam a perseguir batalhões de jihadistas pela cidade. “O Estado Islâmico entrou muito rapidamente em colapso”, disse um comandante da equipa antiterrorismo ao New York Times.

A libertação do centro de Falluja causou o êxodo de milhares de civis, cercados há meses e com pouco acesso a alimentos e água potável. Lise Grande, coordenadora da agência de protecção de refugiados das Nações Unidas no Iraque, diz que espera qualquer coisa na ordem de 60 mil pessoas em fuga para zonas controladas pelo Governo na região de Anbar, o que representa um risco para as organizações humanitárias que operam na zona, já sob grande pressão para garantir comida e água potável às pessoas que fugiram nos últimos dias.

Segundo o porta-voz do Conselho Norueguês de Refugiados, uma das principais agências no terreno, o grande êxodo de Falluja começou já na quinta-feira, quando combatentes do Estado Islâmico permitiram pela primeira vez acesso a duas pontes sobre o rio Eufrates, de onde há uma semana surgiam relatos de pessoas afogadas ao tentarem escapar.

“As pessoas puderam simplesmente sair da cidade”, explicou ao New York Times, dizendo, porém, que muitas delas estão em parte incerta. “Não sabemos para onde foram ou qual é o seu plano”, diz Karl Schembri, que nas últimas semanas tem alertado repetidamente para a falta de água potável nos campos de refugiados nos arredores da cidade.

A libertação do centro da cidade tem um outro risco: Falluja é o grande centro da comunidade sunita no Iraque, a sua população é geralmente desconfiada do Governo e nos arredores a Norte da cidade está uma grande aliança de milícias xiitas que nos últimos dias têm raptado, torturado e executado até dezenas de homens e jovens de Falluja, numa acção de represália pelos massacres de xiitas às mãos do Estado Islâmico.

Os riscos de novas tensões sectárias no grande bastião sunita agravam-se com a fuga desordenada da cidade — não existem ainda detalhes sobre o número de pessoas em fuga nos últimos dois dias. Todos os jovens e homens de Falluja são automaticamente detidos e interrogados em centros governamentais, às vezes durante vários dias, para garantir que não existem combatentes do Estado Islâmico entre os fugitivos — as forças iraquianas dizem já ter capturado dezenas de jihadistas com este processo. 

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