Filósofa que defendia a importância de assumir riscos morre ao tentar salvar duas crianças

Anne Dufourmantelle defendia que “a vida começa a correr riscos”. Perdeu a vida numa praia da Riviera francesa quando a bandeira mudou de laranja para vermelha.

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Uma conhecida filósofa e psicanalista francesa morreu afogada na sexta-feira na praia de Pampelonne, perto de St. Tropez, depois de tentar salvar duas crianças. Anne Dufourmantelle entrou na água ao perceber que os menores estavam em dificuldades devido aos ventos e correntes fortes que se faziam sentir naquela zona da Riviera francesa.

Testemunhas afirmam que a filósofa, de 53 anos, estava a cerca de 50 metros das crianças quando a bandeira laranja da praia mudou para vermelha, indicando que era proibido nadar devido às condições perigosas. Imediatamente, tentou alcançar as crianças, mas foi empurrada para longe por uma corrente forte.

As crianças, cuja ligação a Anne Dufourmantelle não foi clarificada, foram retiradas da água mais tarde por nadadores salvadores, sem que tenham sofrido quaisquer ferimentos.

Já as tentativas para ressuscitar a fiolósofa foram infrutíferas. O seu funeral deve acontecer esta terça-feira em Ramatuelle, sul de França.

Dufourmantelle escreveu vários ensaios – entre eles o livro Éloge du risque (O Elogio do Risco), em 2011, sobre a importância de assumir riscos e a necessidade de aceitar que a exposição a um sem número de possíveis ameaças é parte da vida quotidiana.

Para a ministra da Cultura francesa, Françoise Nyssen, Anne Dufourmantelle era “uma grande filósofa, uma psicanalista que nos ajudou a viver e a pensar sobre o mundo de hoje”.

Por seu lado, outro filósofo francês, Raphaël Enthoven, escreveu no Twitter que estava muito triste com a morte de Dufourmantelle, acrescentando que ela “falava muito bem sobre sonhos”.

Em 2015, numa entrevista ao Libération – onde foi colunista - Dufourmantelle disse que a ideia de “absoluta segurança – risco zero – é uma fantasia”. “Quando realmente existe um perigo que tem de ser encarado para sobreviver, há um forte incentivo para a acção, dedicação e superação pessoal”, afirmou.

“Estar vivo é um risco”. “A vida é uma metarmorfose” que “começa com o risco”, acrescentou ainda.

Dufourmantelle defendia que o medo pode ser – e é – “usado como arma política para controlo das liberdades”, pois qualquer oferta ao público de maior protecção e segurança pode servir para reforçar o controlo e diminuir as liberdades.

Na sua tese, a segurança com impacto visual, como a presença de agentes armados nas ruas na sequência de alertas ou ameaças, pode igualmente aumentar ou generalizar o medo.

“Imaginar um inimigo pronto a atacar de tempos a tempos induz a um estado de paralisia, um sentimento de insegurança que apela a uma resposta maternal – supostamente protectora na totalidade. Hoje, nós desejamos essa sobreprotecção”, afirmou ao Liberation.  

Dufourmantelle doutorou-se em Filosofia na Sorbonne in 1994, mas depois dedicou-se à psicanálise. Em 1998 foi galardoada com o prémio Raymond de Boyer de Sainte-Suzanne em Filosofia.

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