Fillon domina as revoltas do partido, mas é cada vez mais difícil fazer campanha

A dois meses das presidenciais em França, o candidato da direita garante que não desiste, face às suspeitas de corrupção. Só que esta resistência está a gerar desânimo nas suas hostes.

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François Fillon teve de desmarcar vários comícios, porque os eleitos de Os Republicanos não o quiseram receber Benoit Tessier/REUTERS

Os tempos são difíceis para François Fillon, o candidato da direita às presidenciais francesas. Comícios cancelados porque os eleitos locais do partido Os Republicanos, o seu partido, recusam recebê-lo nas suas circunscrições, preocupados com o que os eleitores pensam do candidato que é apupado por ter dado o que tudo indica ter sido um emprego fictício à sua mulher. Houve o princípio de uma revolta parlamentar de cerca de 40 deputados, que exigiam discutir com toda a urgência a necessidade de substituir o candidato do partido. Mas Fillon tem conseguido manter estas ondas sob controlo. A dúvida é até quando.

Esta terça-feira, a crise parecia prestes a estalar: o deputado George Fenech, um conhecido apoiante de Nicolas Sarkozy, parecia disposto a fazer ruir as fileiras em torno de Fillon, escrevendo uma carta aberta ao candidato, marcando os 15 dias pedidos por Fillon para clarificar a sua situação, depois de o semanário Le Canard Enchainé ter começado a publicar pormenores sobre o emprego da sua mulher como assistente parlamentar. “Este prazo está a acabar e não vimos nenhuma clarificação”, escreveram os deputados, que pediam uma reunião do conselho político de Os Republicanos.

Isto acontecia quando vários comícios de Fillon estavam a ser desmarcados – os de Limoges e Clermont-Ferrand, por exemplo – porque os presidentes da câmara locais, do partido do candidato, recusavam-se a fazer campanha por ele, diz o Le Figaro, jornal bem informado sobre a direita. A desculpa oficial é falta de coordenação de agendas, mas é uma fraca escapatória.

O presidente do grupo parlamentar terá feito recuar a revolta de Fenech, e Fillon continua na campanha para as presidenciais, que terão a primeira volta a 23 de Abril – embora as sondagens digam que não tem hipóteses de passar à segunda, com cerca de 17% das intenções de voto. Foi ultrapassado pelo independente Emmanuel Macron, que se bate com Marine Le Pen, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional.

Fillon defende que a sua retirada produziria “uma grande crise, que arriscaria apagar a direita” da campanha presidencial. “Reuni-me com os principais candidatos das primárias, Nicolas Sarkozy e Alain Juppé, e constatei que não havia alternativa melhor. A minha saída provocaria uma grande crise, até no interior da nossa família política”, afirmou numa reunião do seu grupo parlamentar.

Mas a sua permanência na campanha, como candidato do centro-direita, não é menos arriscada. A edição desta semana do Le Canard Enchainé publica uma história sobre Thierry Solère, porta-voz da candidatura de Fillon, que está a ser alvo de uma investigação na justiça por não ter pago os seus impostos durante quatro anos.

O regresso ao normal parece impossível. “Os militantes estão abatidos”, disse um dirigente do partido ao Le Figaro. “A maior parte das pessoas irá votar, ainda assim, mas há reacções muito negativas. Alguns deixam entender que vão virar-se para Macron ou Le Pen”, disse este dirigente de Os Republicanos ao jornal de direita.

Se Fillon, quando de facto consegue fazer campanha, encontra protestos da oposição, com cartazes alusivos ao falso emprego da mulher – pago pelo erário público – também é cada vez mais difícil encontrar voluntários para organizar acções. “Já não encontro militantes que queiram distribuir panfletos das presidenciais. Nunca vi uma coisa destas a dois meses das eleições”, disse ao Le Figaro um quadro do partido de Fillon, eleito por uma circunscrição onde a Frente Nacional está a crescer.

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