Felipe vai ser um ‘rei verde’. E que mais?

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Ainda é príncipe, mas já olhamos para ele com outros olhos. Felipe deixou de ser o filho do velho rei Juan Carlos — muitíssimo respeitado pelo papel que teve na construção da democracia espanhola, mas em queda veloz de popularidade — e passou a ser o homem de quem se espera a mais difícil das tarefas: manter a Espanha unida.

Dois dias depois da abdicação do pai, Felipe falou em público. Estava “algo nervoso e muito emocionado”, escreveu a repórter do El País. No fim, a plateia aplaudiu, de pé, o seu discurso de pré-rei durante “um minuto e três segundos”. “Don Felipe tinha os olhos molhados.”

A naturalidade que a Casa Real está a imprimir à transição foi coreografada ao milímetro. A decisão é de Janeiro, quando o rei fez 76 anos. Ou seja, houve seis meses para montar o plano, estudar as agendas, escolher o dia, as palavras e os gestos. Não foi com certeza circunstancial o anúncio da abdicação ter ocorrido logo a seguir ao 10.º aniversário de casamento de Felipe e Letizia. Depois de rumores de que estaria em crise, as novas fotografias oficiais mostram um casal feliz e moderno, que acorda cedo, veste os uniformes às filhas e as leva à escola.

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As novas fotografias oficiais mostram um casal feliz ?e moderno, que acorda cedo, veste os uniformes às filhas e as leva à escola SUSANA VERA/REUTERS

Em Janeiro, também já estaria previsto Felipe falar em Navarra, que tem origens medievais e um forte significado simbólico nas autonomias de hoje. Como estaria na agenda que, a seguir, iria entregar um prémio de desenvolvimento sustentável, tema que estuda há anos. Felipe será um “rei verde”, essa parte é previsível.

O que não é possível antecipar é como o novo rei fará a gestão de dois dos grandes temas da Espanha de hoje: o referendo sobre a mudança de monarquia para república; e o referendo sobre a independência da Catalunha.

A “esquerda radical”, que saiu mais forte das europeias, argumenta que 70% da população não tinha idade para votar quando a Constituição de 1978 foi aprovada. Uma sondagem desta semana mostra que, pela primeira vez, menos de 50% dos espanhóis apoiam a monarquia, embora haja simpatia por Felipe.

Nos próximos dias, o PSOE — que se define como “partido com alma republicana” — vai fazer passar, com o PP, a lei que permitirá a mudança de rei. A Convergência e União da Catalunha já disse que vai abster-se e a grande incógnita é saber se o seu líder, o “presidente” catalão Artur Mas, cancela a visita aos EUA que tinha agendada para assistir ao acto solene de proclamação do novo chefe de Estado.

A Casa Real diz que Felipe VI não inicia nem “uma nova época, nem um novo tempo”. Don Felipe “é a continuidade, é estabilidade”. Mas os espanhóis querem uma mudança. Felipe não terá sucesso se for apenas a continuação do seu pai.     

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