FBI investiga se morte de indiano no Kansas é “crime de ódio”

Governo de Deli exige “investigação rigorosa e rápida” e garante à comunidade indiana nos EUA que está a acompanhar o caso de perto.

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Irmão da vítima mortal, um engenheiro indiano que vivia com a família no Kansas Reuters/REUTERS TV

Por estes dias, abre-se um jornal indiano e é difícil não encontrar notícias sobre a morte de Srinivas Kuchibhotla, assassinado a tiro num bar em Olhathe, no Kansas. Adam Purinton, autor dos disparos que feriram um amigo de Kuchibhotla e um homem que tentou tirar-lhe a arma, está acusado de homicídio premeditado. A mulher da vítima acusa-o de “crime de ódio” – o FBI está a investigar os motivos possíveis do crime, incluindo a raça.

“Saiam do meu país”, terá dito Purinton antes de disparar, segundo uma testemunha, citada pelo jornal Kansas City. O suspeito fugiu depois a pé e foi detido cinco horas mais tarde, num restaurante a 130 quilómetros de distância. O mesmo jornal escreve que disse a um empregado desse restaurante que tinha acabado “de matar dois homens do Médio Oriente".

“[Purinton] perguntou-nos que visto é que tínhamos e se éramos ilegais”, disse Alok Madasani, que estava com Kuchibhotla, numa conversa com o jornal The York Times.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, comentou o caso na sexta-feira, diz a Reuters, lamentando uma “morte trágica” mas defendendo que “seria absurdo” relacionar este crime com a retórica anti-imigração do Presidente americano, Donald Trump. O chefe de Estado quer endurecer as políticas de imigração e prometeu mão dura contra os 11 milhões de pessoas em situação irregular no país.

Srinivas Kuchibhotla estava na quarta-feira no Austins Bar & Grill com o amigo e colega Alok Madasani, ambos com 32 anos. Engenheiros, trabalhavam ambos na divisão de aviação da empresa de tecnologia americana Garmin. Como tantos milhares de indianos, começaram os estudos no seu país e fizeram depois pós-graduações já nos EUA. Kuchibhotla morreu no hospital, Madasani esteve hospitalizado mas já se encontra em casa. Internado está ainda Ian Grillot, de 24 anos, atingido quando tentou impedir Purinton de disparar.

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Purinton foi acusado na sexta-feira, horas antes da conferência de imprensa da mulher de Kuchibhotla, Sunayana Dumala. “Pertencemos aqui?”, perguntou-se Dumala, contando que já antes tivera dúvidas sobre permanecer nos EUA com a família por causa da quantidade de crimes com armas no país. “Coisas boas acontecem na América”, disse-lhe então o marido.

Na Índia, os media têm dado muito espaço e tempo ao caso. “O Presidente agora tem sangue nas mãos”, foi o título escolhido por um jornal, cita a BBC. Num texto em que se aconselha os indianos a “não falar em hindi ou outra língua indiana quando estiverem em público nos EUA”, o Hindustan Times reúne sugestões para lidar com “o medo entre os indianos depois da morte” de Kuchibhotla.

“Não estejam chocados! Zanguem-se! Trump está a espalhar o ódio. Isto é um crime de ódio”, escreveu o actor indiano conhecido só como Siddharth na rede social Twitter, onde tem 2,6 milhões de seguidores. Venu Madhav, irmão da vítima, disse à Reuters que a nova administração da Casa Branca parece estar “a cultivar uma atitude de ódio em relação aos asiáticos e às pessoas do Médio Oriente”.

“Gostaríamos de assegurar à comunidade indiana, isto está a ser pessoalmente monitorizado ao mais alto nível pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sushma Swaraj, em Deli”, afirmou à BBC o cônsul-geral da Índia nos EUA, Anupam Ray.

Uma vigília numa igreja perto do bar onde aconteceu o crime juntou dezenas de membros da comunidade indiana na sexta-feira à noite. Várias campanhas de recolha de fundos online foram entretanto lançadas, para ajudar nas despesas do funeral e outras – numa já foram recolhidos perto de 400 mil euros.

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