Falha de segurança leva Espanha a encerrar fronteira de Ceuta a mercadorias

Passagem de grupo de 187 migrantes pelo posto de El Tarrajal leva a medida extraordinária.

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Migrantes celebram a passagem para território espanhol no que as autoridades dizem ter sido uma falha de segurança Reduan/EPA

A pressão migratória sobre Espanha, com milhares de pessoas originárias da África subsariana em Marrocos à espera de uma oportunidade para passar a fronteira em Ceuta, levou a que fosse encerrado à passagem de mercadorias, durante uma semana, o posto fronteiriço de El Tarajal.

Esta não é a primeira vez que o posto é encerrado, mas é sim a primeira vez que a “pressão migratória” é a razão para a medida. A decisão foi tomada depois de um grupo de quase duzentas pessoas ter conseguido atravessar a fronteira após o que as autoridades descrevem como uma falha de segurança – e quando se estima que nas redondezas haja entre 1500 a 3000 migrantes com intuito de passar.

Segundo o diário espanhol El País, a polícia preparara-se para uma tentativa de entrada num dos locais da fronteira, deslocando a maioria dos agentes para esse local. Mas os migrantes não tentaram saltar a barreira nesse local, escolhendo passar precisamente pelo posto de fronteira – e assim, às 4h50 da manhã, 187 pessoas irromperam pelo posto onde estavam apenas nove agentes (encarregados sobretudo de tarefas de verificação de documentos) partiram a cancela e atravessaram a correr sem grandes dificuldades.

O caso aconteceu após cinco meses de relativa tranquilidade na fronteira – com excepção do dia 1 de Agosto, quando 73 estrangeiros saltaram a barreira.  

O encerramento do posto de El Tarajal entre os dias 8 e 16 de Agosto, e que se aplica apenas a viaturas ou pessoas com mercadorias, e não a particulares, tem o objectivo de permitir a reorganização das forças que supervisionam a barreira. 

Segundo o diário El País, este ano entraram em Espanha de modo irregular (por terra ou mar) cerca de 11 mil pessoas sem documentos – mais do dobro do número de 2016. Uma grande parte, 6000, fazem-no por via marítima: há histórias de tentativas em barcos de brincar e motas de água. Ainda ontem, tornou-se viral nas redes sociais um vídeo de um barco com dezenas de migrantes a chegar a uma praia de Cádiz – desembarcaram rapidamente, correndo entre as dezenas de banhistas antes de dispersarem.

Já em terra, as tentativas ousadas de passar em grandes grupos as barreiras nos enclaves espanhóis em Marrocos de Ceuta ou Melilla não são novas – normalmente são acções concertadas, com grupos de mais de cem pessoas, para terem mais hipótese de sucesso. As imagens são impressionantes, de dezenas de pessoas empoleiradas no arame farpado. Muitos ficam com feridas profundas ou fracturas – no último salto, no dia 1, mais de 60 ficaram feridos, 14 dos quais precisaram de ser internados por fracturas ou ferimentos

“A diferença é que agora as tentativas de salto são muito seguidas e [os migrantes] chegam até muito mais perto da cerca”, disse um porta-voz do executivo de Ceuta ao jornal El País. Logo a seguir à passagem do grupo de 187, outro grupo de dimensão semelhante tentou aproximar-se da barreira mas foi impedido pelas autoridades marroquinas.

O factor Líbia

A via mais popular para quem quer chegar à Europa é, ainda, a rota marítima da Líbia para Itália, com 95 mil pessoas a usá-la para este ano. Mas a instabilidade na Líbia está a levar mais migrantes a tentar a via de Marrocos.

Esta semana, um relatório de organizações de defesa de direitos humanos a trabalhar com refugiados – Oxfam, Médicos para os Direitos Humanos (Medu) e Borderline Sicilia – denunciou a violência terrível enfrentada por refugiados e migrantes enquanto atravessaram a Líbia para chegar à Europa, o último de uma série de relatos semelhantes. Com base em entrevistas e testemunhos de recém-chegados à Sicília, traçou um quadro de raptos, violações, tortura e trabalho escravo muito recorrentes. Das 31 mulheres entrevistadas, apenas um não tinha vivido violência sexual. Também vários homens descreveram ter sido vítimas de violação.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, quebrou recentemente a falta de ideias de líderes europeus em relação aos migrantes e refugiados que arriscam a sua vida em viagens perigosas, propondo centros de registo das autoridades francesas em países seguros em solo africano, como o Níger, em que fosse possível fazer pedidos de asilo. Quem fosse aprovado, viajaria legalmente para França. 

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