Extrema-direita é o tema do dia eleitoral em Berlim

Num assembleia de voto em Berlim há vozes contra e a favor do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

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Reuters/FABIAN BIMMER

Cornelius votou “num dos partidos da grande coligação que não é a CDU”, Serge vai votar pela primeira vez mas ainda não decidiu se na esquerda ou nos verdes. Mas para ambos o mais importante é que a AfD (extrema-direita) não tenha um bom resultado. Já Eva, que faz parte da equipa que ajuda na votação, parece defender o partido.

Estamos num centro comunitário em Berlim, onde se vota em locais clássicos como escolas ou em locais mais exóticos, desde um barco a um bar clássico de esquina até associações variadas. Tem de estar bem visível com a indicação de que se pode votar e ter três bandeiras: de Berlim, da Alemanha, e da União Europeia.

Cornelius, 52 anos, funcionário numa instituição de apoio a pessoas com deficiência, é dos poucos que quer falar (e sem dizer o apelido; a maior parte das pessoas não quer ver o nome associado ao seu voto e textos na Internet). Votou nos sociais-democratas (SPD), que governa na grande coligação os democratas-cristãos (a CDU) da chanceler Angela Merkel, um partido que, segundo as sondagens, se arrisca a ter hoje o pior resultado da sua história (20%, contra entre 34% e 38% da CDU de Merkel).

Não votará em Merkel, porque para si não é claro se ela não acabará por estabelecer um limite máximo de entrada de refugiados, o que para si é inaceitável. O melhor resultado seria a renovação da grande coligação, porque as outras opções são piores. “Mas o mais importante hoje é que a AfD fique o mais fraca possível.”

Serge, 35 anos, destaca-se neste centro pela altura e a cor da pele, escura no meio de tanta gente branca. “Esta eleição é muito importante para mim porque é a primeira desde que sou cidadão alemão”, diz, o que aconteceu há um ano e pouco. Ainda está a decidir o que vai votar, “esquerda ou verdes”, porque “o mais importante é que a AfD não tenha um bom resultado”, diz. As sondagens mais recentes prevêem que o partido fique mesmo em terceiro, chegando até 13%, com os liberais, Die Linke (A Esquerda) e os verdes atrás, com entre % e 11%.

Curiosa com as entrevistas que está a ver, Eva, 45, funcionária pública, quer falar. Faz parte dos voluntários que ajudam no dia das eleições, que recebem uma compensação de 20 ou 30 euros, e é algo que gosta de fazer. “Começamos às 7h, a preparar tudo, não é que não dê trabalho, mas é entusiasmante”, diz, numa pausa. Daqui a pouco está com um sorriso a dirigir pessoas para os seus locais, a mostrar os boletins, que são quilométricos, com todos os candidatos directos e dos partidos; e há ainda um boletim para um referendo sobre se o aeroporto de Tegel se deve manter aberto após a entrada em funcionamento do novo aeroporto (que devia ter aberto em 2011 e ainda não tem data definitiva para receber voos).

Eva está contente porque está a ver muita gente a votar. “Acho que estamos com uma boa afluência, e há já muita gente que votou por carta”, nota.

Esta eleição é especial, concorda, mas isso não se nota no ambiente, porque as pessoas não discutem o voto. “Se vai haver um terremoto logo à noite não sei, mas vai acontecer qualquer coisa, e talvez daqui a quatro anos haja então um terramoto”.

Está lançado o pretexto para ela explicar tudo o que está mal na política do país: “Merkel faz tudo o que é de esquerda”, “quem é conservador já não tem em quem votar”, a “AfD só está a fazer a política da CDU dos anos 1980 e 1990”, e, na sua opinião, o partido “é excluído e discriminado”. Assim como, acrescenta, toda a gente que os apoia. “Não se pode dizer nada, porque Merkel apresentou a entrada dos refugiados como humana, e ninguém quer ser desumano”. E começa uma pequena pantomina: “é tãããão sexy defender os refugiados, somos tãããããõ cosmopolitas”, diz com sarcasmo. Mas a verdade “é que se está a perder a paz social neste país.”

Além disso, “o que acontece é que não se pode dar uma opinião diferente, especialmente nos locais de trabalho”, queixa-se.

“Qual é o problema? As pessoas incomodam-se demasiado com o que os outros países vão pensar se a AfD tiver um bom resultado”, conclui. 

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