Nigéria à espera de saber se há raparigas de Chibok entre 293 libertadas

Um porta-voz deu como certo que entre as resgatadas terça-feira ao Boko Haram não estão as estudantes raptadas há um ano. Outro aconselhou prudência.

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Nos familiares das raparigas de Chibok, a notícia criou primeiro esperança e depois desilusão Afolabi Sotunde/REUTERS

O facto é que o exército nigeriano libertou na terça-feira 200 raparigas e 93 mulheres de campos conquistados pelo Boko Haram na floresta de Sambisa. A dúvida que surgiu imediatamente, e não desapareceu com as declarações de porta-vozes militares, é se algumas faziam parte do grupo de mais de 200 estudantes do liceu de Chibok, raptadas pelo grupo islamista em 2014.

Inicialmente, foi divulgada a informação de que as raparigas e mulheres estavam a ser identificadas. Horas depois, o porta-voz do exército, Sani Usman, deu como certo que nenhuma pertencia ao grupo do muito mediatizado rapto, que deu origem a acções de solidariedade em vários países. “Não são as raparigas de Chibok”, disse.

Quase ao mesmo tempo, o porta-voz das Forças Armadas, Chris Olukolade, aconselhou prudência, porque nem todas tinham ainda sido identificadas e estavam a ser submetidas a exames. “Não é razoável declarar precipitadamente que não há raparigas de Chibok entre elas. Não podemos saber. Uma ou duas delas podem fazer parte do grupo", acrescentou, citado pelas agências noticiosas.

Logo que foi anunciado a libertação das sequestradas em Sambisa, diplomatas e fontes dos serviços de informações ouvidos pela Reuters disseram acreditar que pelo menos algumas das raparigas pertencessem ao grupo de Chibok. “Algumas das raparigas estão feridas”, disse uma dessas fontes.

Para os familiares das raptadas, as notícias criaram primeiro esperança, depois desilusão. “Estávamos à beira de celebrar a libertação das nossas filhas e agora voltamos a chorar por elas”, disse, à AFP, Enoch Mark, pai de uma das 219 raptadas em Chibok, no Nordeste da Nigéria.

A 14 de Abril de 2014, os islamistas raptaram  276 estudantes do liceu de Chibok. De entre elas, 57 conseguiram fugir nas horas seguintes mas desconhece-se o paradeiro das outras 219. Depois do rapto, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, anunciou num vídeo que pretendia casá-las com combatentes e vendê-las como escravas. 

Mais de 2000
A libertação de terça-feira confirma que o caso está longe de ser um episódio isolado. Num relatório divulgado quando passou um ano sobre o mediático rapto, a Amnistia Internacional calculou que o número de mulheres e raparigas nigerianas sequestradas desde o início de 2014 era “sem dúvida superior” a dois mil. A organização de defesa dos direitos humanos recolheu dados sobre 38 casos de raptos colectivos feitos pelo Boko Haram.

Desde que o rapto das estudantes ocorreu, a floresta de Sambisa, também no Nordeste, um bastião do grupo, é tida como um local onde seria provável que se encontrassem. Foram realizados vários voos na zona mas não foi possível confirmar a sua presença. As informações dos militares nigerianos indicam que na ofensiva sobre Sambisa, desencadeada nas últimas semanas com apoio aéreo, foram tomados quatro campos do Boko Haram ali existentes, mas que os islamistas têm muitos mais, disse Sani Usman.

O grupo perdeu terreno na Nigéria desde que, em meados de Fevereiro, o exército lançou uma ofensiva com o apoio de forças do Níger, Chade e Camarões. Foram libertadas milhares de pessoas e o Boko Haram recuou para Sambisa. Há informações de que está a ficar sem armas e munições.

Mas os islamistas têm dado sinais de que não estão encurralados. No sábado, atacaram uma posição do Exército do Níger junto ao lago Chade, causando a morte de 46 soldados e o desaparecimento de 32. Foram também assassinados 28 civis. Na operação foram, segundo as autoridades nigerinas, mortos 156 atacantes.

Desde que começou, há seis anos, a insurreição islamista e a sua repressão provocaram a morte de mais de 15 mil pessoas. Mais de 1,5 milhões foram, segundo as Nações Unidas, obrigadas a deixar as suas casas.

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