Coreia do Norte na agenda dos líderes em Hamburgo

Washington critica Moscovo e Pequim por “darem a mão” ao líder do regime norte-coreano, Kim Jong-un.

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Kim Jong-un festejando o ensaio de um míssil de longo alcance na segunda-feira Reuters

Os Estados Unidos vão “confrontar de modo muito forte” a Coreia do Norte pelo seu “comportamento muito, muito mau”, após um ensaio de míssil com potencial de atingir os Estados Unidos, disse o Presidente norte-americano, Donald Trump, que à margem do G20, em Hamburgo, se vai encontrar com os líderes chinês, Xi Jinping, e russo, Vladimir Putin.

Trump não quis estabelecer uma “linha vermelha” nem explicar de que tipo de acção falava. “Pedimos a todas as nações para confrontar esta ameaça global e mostrar publicamente à Coreia do Norte que há consequências para o seu comportamento”, declarou o Presidente norte-americano numa conferência de imprensa em Varsóvia. “Vai ter de ser feita alguma coisa.”

A capacidade balística de Pyongyang “por si só não nos faz estar mais perto de uma guerra”, explicou, horas depois, o seu secretário da Defesa, James Mattis. “O Presidente foi muito claro, o secretário de Estado foi muito claro, dizendo que estamos a prosseguir com esforços diplomáticos e económicos.”

As opções de Trump parecem, no entanto, cada vez mais limitadas, com a China e a Rússia a rejeitarem mais pressão económica sobre o regime de Kim Jong-un. Trump, que se deverá reunir esta sexta-feira com Xi, já se queixou da falta de cooperação da China

Na véspera, a embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, declarou que os EUA “estão prontos a usar todo o leque de capacidades” para se defender, especificando que “uma dessas capacidades são as forças militares”, mas concluindo: “Preferíamos não ter de ir nessa direcção.”

Haley criticou a atitude da Rússia e da China, que “dão a mão” a Kim Jong-un, concentrando-se em Pequim, já que 90% do comércio da Coreia do Norte é com a China. “Há países que estão a permitir, e até a encorajar, comércio com a Coreia do Norte em violação das sanções do Conselho de Segurança”, disse Haley. “Estes países gostariam de continuar os seus acordos comerciais com os EUA. Isso não vai acontecer”.

O aviso chinês

A China reagiu pela voz do vice-ministro das Finanças. Zhu Guangyao garantiu que Pequim cumpriria todas as sanções mas avisou Washington para não aproveitar a questão para prejudicar a China: “Os Estados Unidos não deviam usar as suas leis internas como desculpa para impor sanções contra as instituições financeiras chinesas.” Washington e Pequim marcaram para 19 de Julho uma reunião, a fim de discutir questões económicas bilaterais.

Alguns diplomatas dizem que a China não está a cumprir plenamente as sanções internacionais e tem resistido à adopção de medidas mais duras, como um embargo ao petróleo, ou medidas contra empresas que ainda tenham negócios com a Coreia do Norte. Segundo a agência Reuters, tem sido posta a hipótese de que os EUA tentem impor acções unilaterais a mais empresas chinesas com ligações ao regime vizinho, especialmente bancos, uma táctica que foi antes usada para pressionar o Irão no caso do seu programa nuclear.

O Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, declarou ser “imperativo” que outros países aumentem a pressão e as sanções, mas a questão tem de ser resolvida, em última análise, através do diálogo: “Não pode haver outra guerra na Península da Coreia, nunca mais.”

A China é quem tem a chave da desnuclearização da Península, apontou ainda Moon. Pequim vê, no entanto, a questão norte-coreana de modo diferente dos EUA, sublinha o New York Times. Apesar de encarar com desagrado as acções do vizinho, não tem a mesma urgência que os americanos.

Mais: sanções mais fortes, que causem o caos no Norte, também não são do seu interesse. “Não é muito provável que a China siga a vontade dos EUA e tenha uma acção pesada na Coreia do Norte como a que o Presidente Trump pediu”, disse ao diário norte-americano Deng Yuwen, analista de Pequim especializado em Coreia do Norte.

A Rússia opôs-se entretanto a uma proposta de condenação da Coreia do Norte no Conselho de Segurança feita pelos Estados Unidos. A razão é a avaliação do tipo de míssil testado pelos norte-coreanos, que na resolução era referido como um míssil balístico intercontinental (ICBM), o que para Moscovo não é certo.

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