Espanha une-se para rejeitar o terror que feriu Barcelona

Num ambiente político carregado, na antecipação do referendo pela independência da Catalunha, o Daesh atacou no coração da cidade mais visitada pelos turistas. Nove horas depois, a polícia travou o que diz ser outro atentado, em Cambrils (Tarragona). Cinco suspeitos foram abatidos.

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A carrinha investiu contra a multidão que enche a Rambla, uma avenida no centro da cidade David Armengou/EPA

O Daesh reivindicou o atentado com uma carrinha que arremeteu contra a multidão na Rambla de Barcelona, e matou pelo menos 13 pessoas e feriu outras 100, 15 das quais em estado grave. Duas pessoas foram detidas mas uma delas terá documentação falsa e poderá haver ainda cúmplices a monte.

“Os autores do ataque em Barcelona são soldados do Estado Islâmico e puseram em prática a operação em resposta a apelos para atingir Estados da coligação” que luta conta o Daesh no Iraque e na Síria, diz a reivindicação, divulgada pela agência Amaq do grupo jihadista.

Nove horas depois deste atentado, a polícia desencadeou uma operação antiterrorista em Cambrils (Tarragona), a cerca de 120 quilómetros de Barcelona. Segundo as autoridades, foram abatidos cinco presumíveis terroristas. Estariam a preparar um ataque em moldes semelhantes ao de Barcelona. Segundo o canal espanhol TVE, ainda tentaram atropelar peões nesta estância turística, fazendo cinco feridos, mas foram travados.

O ataque na Rambla, o oitavo em 13 meses em cidades europeias em que a arma dos terroristas é uma viatura motorizada, acontece num momento político sensível para Espanha: o governo regional ameaça realizar um referendo sobre a independência da Catalunha, considerado inconstitucional pelo Governo de Madrid. O ataque na Rambla levou o chefe do Governo, Mariano Rajoy, a Barcelona, para juntar-se a Carles Puigdemont, o líder independentista da Generalitat da Catalunha, para reunir um gabinete de crise na cidade. Mas os apelos à unidade tiveram um sabor especial.

“Os terroristas nunca derrotarão um povo unido que ama a liberdade frente à barbárie”, disse Rajoy no Twitter – um normal apelo à solidariedade, mas que também pode ser lido como uma rejeição de ambições de independência pelos catalães. O rei Felipe VI apelou igualmente à união: “Toda a Espanha é Barcelona. As Ramblas voltarão a ser de todos.”

Este é o primeiro atentado terrorista em Espanha desde 11 de Março de 2004, quando explosões coordenadas na estação de Atocha, em Madrid, fizeram 192 mortos e mais de 2000 feridos, num ataque reivindicado pela Al-Qaeda. Desde 2015, quando Paris sofreu dois atentados, um da autoria da Al-Qaeda e outro do Daesh, que Espanha está com um nível alto (quatro numa escala de cinco) de ameaça terrorista, sem que nada tenha acontecido. O Daesh atacou agora na cidade europeia que mais turistas atrai (8,6 milhões, só nos primeiros seis meses de 2017), numa tarde de Agosto – um momento perfeito para ferir e matar.

“Vimos uma furgoneta branca a chocar contra as pessoas, que voaram com o atropelamento. Três ciclistas foram projectados pelo ar”, disse ao El País Ellen Vercamm, uma turista de férias em Barcelona, que testemunhou no local o atentado, que aconteceu pelas 16h de Lisboa. “É horrível, há mortos por todo o lado.”

Joan Pere Margalef, de 62 anos, escapou por pouco. Estava sentado à sombra. “Ouvi um ruído muito forte, levantei-me rapidamente e pus-me atrás da cadeira; nesse momento, uma grande carrinha branca passou-me à frente a grande velocidade”, relatou ao jornal La Vanguardia. “Estava toda a gente a gritar, mas neste local não atropelou ninguém, só lá mais à frente”, explicou. Foi na zona do Liceu e Praça de Boquería, onde há sempre mais gente que a carrinha parou, finalmente, e se virou, depois de chocar com vários quiosques – e atropelar dezenas de pessoas.

Falsa identidade

A polícia difundiu uma foto de um suspeito e fez duas detenções, uma delas de um cidadão francês de origem marroquina com residência legal em Espanha, Driss Oukabir Soprano, que tinha cadastro na polícia e já cumpriu pena numa cadeia espanhola, de onde saiu em 2012.

Só que, passadas algumas horas em que os media espanhóis se tinham lançado no Facebook para pesquisar o seu perfil, enquanto esteve acessível, o próprio Driss Oukabir Soprano apresentou-se numa esquadra de polícia dizendo que o seu documento de identidade tinha sido roubado há dias. Não tinha denunciado o roubo, afirmou, porque suspeitava que tinha sido o seu irmão mais novo, Moussa Oukabir, a dar sumiço ao seu bilhete de identidade.

No meio da confusão, houve uma troca de tiros com a polícia, já a cerca de 10km de Barcelona, quando um homem num Ford Focus branco tentou uma fuga, depois de ter investido contra um polícia, diz o El País. Segundo Josep Lluís Trapero, responsável da policia catalã, o homem acabou morto. Para já, não há nada que o ligue com o atentado, disse o responsável numa conferência de imprensa.

A carrinha branca usada no atentado foi alugada em Santa Perpètua de Mogoda (Barcelona). Mas a polícia catalã encontrou um segundo veículo, com que se pensa que os autores do atentado pensavam escapar, nas proximidades de uma hamburgueria em Vic, uma localidade a cerca de 70km de Barcelona – o que leva as autoridades a supor que pelo menos mais duas pessoas tenham participado na organização deste ataque.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, foi um dos muitos líderes mundiais que comentaram o ataque e se solidarizaram com Espanha. Mas, num tweet, sugeriu que se imitasse o general Pershing, para acabar com o terrorismo islâmico – uma alusão a uma história não confirmada de que o militar da I Guerra executava muçulmanos nas Filipinas com balas banhadas em sangue de porco. Com Victor Ferreira

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