Erdogan assume que gostava de expandir o território da Turquia

"Não podemos ser prisioneiros de 780 mil quilómetros quadrados", disse o Presidente turco. Também quer reescrever os livros da primária para recuperar o passado otomano e imperial do país.

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Recep Erdogan, um Presidente que sonha com um império Umit Bektas /Reuters

A História da Turquia não começou com Mustafa Kemal Atatürk, disse nesta quinta-feira o Presidente, Recep Taiyyp Erdogan, que, durante uma cerimónia para assinalar o aniversário da morte do fundador da república, lamentou que o país tenha apenas 780 mil quilómetros quadrados, quando já deteve um vasto império (otomano).

"Não podemos ser prisioneiros de 780 mil quilómetros quadrados", disse Erdogan. "As nossas fronteiras físicas são uma coisa e as nossas fronteiras do coração são toda uma outra coisa. Os nossos irmãos da Crimeia, do Cáucaso, de Alepo, de Mossul (...) podem estar fora das nossas fronteiras físicas, mas estão dentro das fronteiras do nosso coração", disse o Presidente turco, no discurso abertamente expansionista que fez na cerimónia que marcou os 78 anos da morte do "pai" da Turquia moderna. 

Erdogan encarna a ideologia neo-otomana, que se centra numa administração fortemente centralizada e numa influência política nas regiões que faziam parte do Império Otomano (que se estendia pela Europa, Ásia e Médio Oriente). Estas declarações expansionistas surgem na sequência do discurso que Erdogan tem tido sobre intervenções militares no Iraque e na Síria, onde uma coligação internacional combate o Daesh. A Turquia exigiu um papel activo nos conflitos nas regiões curdas que reivindica como parte do seu território.

As declarações de Erdogan, a par de movimentações de tropas turcas para junto da fronteira com o Iraque, levaram o Governo de Bagdad a advertir Erdogan para não entrar no território vizinho, se quiser evitar uma guerra turco-iraquiana. A Turquia é membro da NATO, cujo tratado fundador determina que uma agressão a um membro determina a intervenção de todo o bloco.

Apesar de ser acusado de ter destruído a república laica que Atatürk fundou, Erdogan rendeu homenagem ao antigo Presidente e aproveitou para fazer um paralelismo entre a história de ambos – comparou a luta de Mustafa Kemal na guerra de independência da Turquia contra as potências vitoriosas da I Guerra Mundial à sua vitória sobre os golpistas que, em Julho, o tentaram derrubar.

"Faço muita questão de vir a esta cerimónia. Gostava muito que ele ainda estivesse vivo, ao nosso lado nestes dias difíceis", disse Erdogan.

Para recuperar o passado otomano e imperial, Erdogan disse ainda que poderá reformar o ensino básico, de forma a que a História seja ensinada da maneira certa. Cerca de 50 mil professores foram afastados do ensino após o golpe de Estado falhado.

Para recuperar esse passado, quer reformar o ensino básico, para que as crianças aprendam o que existiu antes de 1923.

"Não aceitaremos que tentem limitar a história do nosso Estado e da nossa nação a 90 anos. Vamos adoptar todas as medidas [contra essa ideia], entre elas o exame dos livros da escola primária", disse o Presidente turco.

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