Empresários pressionam May a mudar rumo do "Brexit" enquanto é tempo

Antes de encontro inédito com David Davis, confederações defenderam permanência do país no mercado único até à negociação de um novo acordo de comércio.

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Mural de Bansky sobre a saída britânica da UE Gerry Penny/EPA

Theresa May passou meses a afirmar que sair da União Europeia sem um acordo seria preferível a contentar-se com um mau acordo, desvalorizando os receios dos economistas e das empresas. Agora, com a primeira-ministra debilitada pelo fracasso nas legislativas, é a vez dos defensores de um “soft Brexit” passarem à ofensiva, – a última foi protagonizada pela confederação da indústria britânica (CBI) que quer que o Reino Unido permaneça no mercado único europeu até à entrada em vigor de um novo acordo comercial com Bruxelas.

“É tempo de sermos realistas”, afirmou Carolyn Fairbairn, directora-geral da confederação, num discurso quinta-feira à noite na London School of Economics, sublinhando que “mesmo com a maior das boas vontades das duas partes, será impossível imaginar que os detalhes de um acordo possam estar claros no final de Março de 2019”, data em que o país deixará a UE.

A posição oficial britânica é a de que será possível concluir um acordo de comércio livre antes do “Brexit” – apesar de Bruxelas insistir que tal irá demorar vários anos a ser negociado –, ainda que admita a necessidade de um período de transição até que os novos arranjos estejam totalmente em vigor. Queixando-se da incerteza, que dizem estar já a ter consequências nas decisões de investimento, os patrões dizem que o cenário ideal seria, no entanto, o país manter-se como membro do mercado único e da união aduaneira, mesmo que para isso fosse obrigado a respeitar por tempo indeterminado a livre circulação de pessoas ou a jurisdição dos tribunais europeus.

“Não creio que isso seja legal ou politicamente possível”, respondeu esta sexta-feira, à margem da cimeira do G20 o ministro das Finanças, Philip Hammond, defendendo em alternativa um acordo de transição que replique o mais possível os actuais arranjos. O ministro – que desde as legislativas de Junho se assumiu como porta-voz dos que querem um “Brexit” pragmático e centrado na economia – afirmou-se, ainda assim “satisfeito por a comunidade empresarial estar fazer ouvir-se nesta discussão”.

Oficialmente, a estratégia de May para as negociações não se alterou. Mas num sinal de que nada poderá ficar como antes das eleições de Junho, o ministro para o “Brexit”, David Davis, convidou as cinco confederações patronais e alguns dos principais líderes das maiores empresas cotadas na bolsa de Londres para um encontro, esta sexta-feira, no retiro de fim-de-semana que partilha com os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Comércio Internacional.

Com este encontro, o Governo entrega aos empresários “um ramo de oliveira e reconhece que deu um passo em falso” ao afastar os empresários da preparação das negociações com Bruxelas, escreveu o Financial Times. Já o Politico lembrava que os chefes de gabinete de May, afastados após as eleições, ficaram conhecidos pelo relacionamento hostil com as grandes empresas, apostados que estavam em retratá-la como mais próxima com a classe média.

Os dois jornais admitem que não é certo que a pressão de Hammond e das empresas seja suficiente para mudar a estratégia do Governo – onde os eurocépticos têm maior peso – mas entendam que, como lembrou na véspera o principal negociador europeu para o “Brexit”, Michel Barnier, o tempo se está a esgotar para rever o rumo. “Seja qual for o resultado das negociações, a minha mensagem é esta – o verdadeiro período de transição começou a 29 de Março deste ano”, afirmou Michel Barnier.

 

 

 

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