Em Israel, Trump sublinha "ameaça iraniana"

Presidente americano escolhe disparar contra a República Islâmica em visita em que saiu pouco do guião. Mas quando o fez parece ter confirmado, inadvertidamente, uma fonte de informação confidencial.

"Presidente Donald" e "Bibi": uma demonstração de amizade em Israel
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"Presidente Donald" e "Bibi": uma demonstração de amizade em Israel Reuters
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Trump foi o primeiro Presidente dos EUA a visitar o Muro Ocidental enquanto Presidente JONATHAN ERNST/Reuters

A visita do Presidente norte-americano, Donald Trump, a Israel começou com grandes expectativas, atravessou uma fase de descrença com confusões de planeamento, mas o encontro com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, foi uma oportunidade para elogios conjuntos e uma tentativa de mostrar familiaridade nas declarações aos media, com Netanyahu a dirigir-se ao “Presidente Donald” e Trump a um agradecer ao seu anfitrião “Bibi”.

Ainda assim, Netanyahu, actualmente no seu quarto mandato como primeiro-ministro, mostrou um à vontade que contrastou com o modo como Trump ia lendo o seu discurso – os dois líderes fizeram declarações e não houve direito a perguntas.

Netanyahu congratulou-se com a “mudança de política” norte-americana em relação ao Irão, lançando-se num rol de elogios ao actual líder norte-americano (numa velada crítica ao seu antecessor, Barack Obama), e Trump respondeu com reciprocidade focando-se na ameaça do regime iraniano e das suas ambições, pedindo aos regimes árabes para isolarem a República Islâmica, voltando a uma linha que tinha já assumido no dia anterior na Arábia Saudita (a República Islâmica é o inimigo comum de Israel e Arábia Saudita, eles próprios inimigos).

O Presidente americano disse ainda que “há muitas coisas que podem acontecer agora que nunca poderiam ter acontecido antes”. Quanto a um acordo entre israelitas e palestinianos, Trump declarou que este será o mais difícil de todos, mas que ainda tem esperança de que seja possível, e aludiu a ainda a um possível entendimento com os países árabes.

Até então tudo correra bem. Mas na altura das fotografias, depois de Netanyahu ter respondido informalmente a um repórter sobre a cooperação dos serviços secretos dos dois países como "optima", Trump saiu do guião e fez parar toda a gente para declarar: “Não disse nunca a palavra Israel. Engaram-se de novo”, disparou para os jornalistas.

O motivo para a declaração era a alegação, numa notícia do Washington Post, de que Trump partilhou com a Rússia informação sobre planos do Daesh usar explosivos em computadores portáteis, informação classificada que só poderia partilhar após pedir autorização à fonte, que o teria recusado. Mais tarde outro jornal disse que a fonte era israelita. A questão não era Trump ter nomeado a fonte, era simplesmente ter partilhado informação classificada, e potencialmente expor o agente que a descobriu. E ao dizer que não nomeou Israel, parece ter confirmado inadvertidamente a fonte.

Onde fica o Muro?

A visita de Trump ficou ainda marcada por ter feito algo que nenhum outro Presidente americano fez numa visita oficial – uma visita ao Muro Ocidental, ou Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado para o judaísmo. Barack Obama fez uma visita ao local mas enquanto senador e candidato, antes de ser eleito.

Mas Trump recusou ser acompanhado por qualquer político israelita, o que provocou uma das grandes gaffes do planeamento da visita: a justificar a recusa um responsável da Casa Branca disse a um responsável israelita que o local não estava em território israelita, mas na Cisjordânia.

Ora a quem pertence Jerusalém é uma das questões mais complexas do conflito israelo-palestiniano e o futuro da cidade, revindicada por ambos como a sua capital, deveria ser definido apenas na fase final de um acordo entre as duas partes – por isso é que americanos nascidos no local têm no seu passaporte apenas “Jerusalém”, sem país.

Daí também que tenha sido tão polémica a promessa de campanha de Trump passar a embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém; seria encarar a cidade santa como a capital de Israel. Nesta viagem a equipa de Trump deixou claro de que uma decisão sobre a embaixada seria tomada apenas após a visita.

Após a afirmação do responsável da administração sobre o Muro Ocidental, Israel exigiu uma afirmação pública, o que deu origem a três comentários diferentes: O conselheiro de segurança Nacional, H. R. McMaster, disse que o estatuto de Jerusalém era “uma decisão política”, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que o muro “é em Jerusalém”, e a embaixadora Nikki Haley reconheceu não saber qual a política da Administração, mas que no seu ponto de vista “o Muro Ocidental faz parte de Israel”.  

Daí que muitos em Israel estivessem nervosos sobre a visita de Trump.  “Alguma coisa vai correr mal. Só não sabemos o quê”, disse um político israelita, sob anonimato, à estação de televisão norte-americana CNN. “Uma visita de sucesso acontecerá quando acabar”, concluiu.

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