Em clima tenso, Xi inicia primeira visita oficial a Hong Kong

No sábado assinalam-se vinte anos desde que o Reino Unido passou a soberania sobre o território para a China. Vários activistas foram detidos na véspera da chegada do Presidente chinês.

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Xi Jinping fez um curto discurso ainda no aeroporto de Hong Kong EPA/JEROME FAVRE

O Presidente chinês, Xi Jinping, iniciou esta quinta-feira a sua primeira visita oficial a Hong Kong desde que chegou ao poder, em 2012. O objectivo é assinalar o 20.º aniversário da entrega da soberania sobre o território à China, mas a visita acontece numa altura politicamente sensível.

Para diminuir ao máximo qualquer risco, as autoridades locais mobilizaram um esquema de segurança sem precedentes. Durante os três dias da visita, cerca de 11 mil polícias vão proteger a comitiva presidencial. Há ruas fechadas ao trânsito e zonas onde é proibida a passagem até a peões, escreve o South China Morning Post. No sábado, Xi deverá discursar durante a cerimónia que assinala o 20.º aniversário da cedência da soberania britânica sobre Hong Kong para a China.

O grande objectivo é limitar ao máximo a margem para os grupos opositores ao regime chinês poderem organizar acções de protesto. Na quarta-feira, foram detidos vários activistas enquanto organizavam uma concentração junto de uma escultura que representa a passagem da soberania para a China. Entre os detidos está o líder estudantil Joshua Wong, que se notabilizou durante a chamada “revolução dos guarda-chuvas” em 2014.

“Estou muito feliz, porque Hong Kong esteve sempre no meu coração”, disse Xi, num discurso realizado ainda no aeroporto. O líder chinês garantiu ainda a disponibilidade do Governo para “trabalhar com todos os sectores da sociedade de Hong Kong” com o objectivo de “assegurar que [o modelo] ‘um país, dois sistemas’ irá manter-se com estabilidade”.

Esta fórmula, cunhada pelo ex-líder chinês Deng Xiaoping, garante que durante um período de 50 anos Hong Kong terá possibilidade de manter o seu modelo de desenvolvimento económico, bem como um certo grau de democracia (não há sufrágio directo, mas há competição partidária) e algumas liberdades e direitos que não existem no resto da China.

Porém, nos últimos anos, há sinais de que Pequim está a exercer cada vez mais influência sobre o território, ignorando algumas das garantias previstas pelo “um país, dois sistemas”. Em 2014, centenas de milhares de pessoas paralisaram parte do centro urbano de Hong Kong durante várias semanas em protesto contra aquilo que dizem ser promessas não cumpridas por parte de Pequim.

Em causa estava uma nova lei eleitoral que regulava o processo de escolha do chefe-executivo do território que mantinha a escolha nas mãos de um comité de personalidades muito próximas de Pequim. De acordo com a Lei Básica, o documento constitucional em vigor desde 1997, o sufrágio universal deve ser gradualmente garantido durante os 50 anos após a passagem para a administração chinesa.

Numa entrevista recente ao The Guardian, o último governador britânico de Hong Kong, Chris Patten, manifestou preocupação com o rumo que o território está a tomar e disse não ter dúvidas que o acordo assinado entre Londres e Pequim foi quebrado pela China. "Quando saímos, tínhamos deixado várias garantias para pôr em campo um sistema de uma maior e mais legítima responsabilização. Mas poderíamos ter feito mais, disso não tenho dúvidas", disse Patten.

Notícia corrigida às 11h55: Uma primeira versão descrevia Chris Patten como "último embaixador britânico de Hong Kong", quando na verdade foi o último governador.

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