Economia mantém crescimento, mas continua a preocupar

O PIB chinês cresceu conforme o previsto, acalmando por ora os receios mundiais. O mercado imobiliário é agora a grande preocupação.

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A construção em cidades como Xangai tem suportado grande parte do crescimento da economia chinesa Aly Song / Reuters

A economia chinesa cresceu como o previsto, mas mantêm-se os receios quanto à sustentabilidade do crescimento. De acordo com as estatísticas governamentais, reveladas na semana passada, o PIB aumentou 6,7% no último trimestre, em linha com as previsões de Pequim até ao fim do ano.

Os dados vêm acalmar os receios de um abrandamento mais acentuado da segunda maior economia mundial. Os analistas avisam, no entanto, que o crescimento está alicerçado numa expansão do crédito destinado ao sector imobiliário e a obras públicas.

“O crescimento do crédito continua a superar o crescimento nominal do PIB, baseado já numa enorme dívida”, disse ao Financial Times o analista da Universidade de Cornell, Eswar Prasad. É no mercado imobiliário que se concentram as principais preocupações dos investidores. Em 2015, o preço médio das habitações em metrópoles como Pequim e Xangai aumentou cerca de 25%.

Recentemente, 20 das maiores cidades chinesas – representando mais de metade das vendas no sector – aprovaram um conjunto de restrições à venda de casas para combater a escalada dos preços.

Em 2015, a economia chinesa registou o crescimento mais lento das últimas duas décadas – período em que ascendeu ao patamar de potência económica mundial. Entre as principais causas para o arrefecimento esteve a crise bolsista, a queda das exportações e uma contínua desvalorização da moeda.

 O Governo de Xi Jinping tentou acalmar os investidores, dizendo que este é “um novo normal” no padrão de evolução da economia e referiu que um crescimento na ordem dos 6,5% este ano seria aceitável.

Quando ascendeu ao poder, em 2012, uma das prioridades de Xi era a introdução de reformas profundas, para evitar a chamada “armadilha do rendimento médio” – termo aplicado às economias que crescem de forma acelerada num curto período de tempo e depois não conseguem iniciar as reformas necessárias para o sustentar. Porém, as medidas tardam em ver a luz do dia.

A direcção da política económica era uma das áreas da competência do Conselho de Estado, liderado pelo primeiro-ministro. No entanto, também aqui Xi chamou a si mais poderes, ao estabelecer no partido um grupo para os assuntos económicos e financeiros que assumiu crescente importância e lhe responde directamente. “Há um consenso no partido quanto à necessidade de centralizar o poder desta forma para progredir nas reformas”, disse ao FT Timothy Heath, analista na Rand Corporation.

Desde que chegou ao poder, Xi fala insistentemente no “sonho chinês”, uma ambição que se traduz em duas metas concretas – levar a China ao patamar de sociedade próspera até 2021, quando o Partido Comunista celebra cem anos, e torná-la numa economia avançada em 2049, ano do centenário da fundação da República Popular. Mas os ganhos das últimas duas décadas demoram a chegar ao bolso da população. Um estudo publicado pelo jornal económico Caixin concluiu que o nível médio do salário dos chineses esteve longe de acompanhar o crescimento do PIB: enquanto a economia cresceu mais de 75% entre 2008 e 2015, os salários subiram pouco mais de 10%.

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