É oficial: o "previsível" Mike Pence forma equipa com Trump

O candidato republicano foi buscar um político tradicional e "previsível" para a corrida à Casa Branca. O governador do Indiana tem credenciais legislativas e executivas, e agrada à ala evangélica do eleitorado.

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Donald Trump (à direita) e Mike Pence num comício no Indiana, a 12 de Julho Tasos KATOPODIS/AFP

O anúncio estava previsto para um evento que, esta sexta-feira, juntaria Donald Trump e Mike Pence em Manhattan. Depois foi adiado, devido ao ataque em Nice. Finalmente, acabou por ser resolvido no Twitter: “Tenho o prazer de anunciar que escolhi o governador Mike Pence para concorrer como meu vice-presidente”, escreveu o candidato do Partido Republicano à Casa Branca. Quem é Pence? “Um cristão, um conservador e um republicano, por esta ordem”, descreve-se o próprio.

Trump já tinha informado os membros do partido de que tinha escolhido o governador do Indiana para seu “número dois”, tornando a formalização da candidatura pouco surpreendente. Na sexta-feira de manhã, Pence apanhou um avião para Nova Iorque, para que os dois pudessem fazer o anúncio em conjunto, segundo afirmou à AP um responsável. Mas pouco depois da sua chegada, o magnata anunciou o cancelamento do evento, justificando-o com o ataque em Nice, que fez pelo menos 84 mortos. A decisão levou a especulações de que o imprevisível Trump teria mudado de ideias à última da hora. As dúvidas não tardaram a ficar esclarecidas com a mensagem do na rede social.

Foi também no Twitter que Pence disse que se sentia “honrado” em entrar na corrida e “trabalhar para tornar a América novamente grande”. Segundo a AFP, os dois irão apresentar-se juntos, sim, mas este sábado, num hotel em Nova Iorque.

O New York Times interpreta a escolha deste político tradicional e “previsível” como uma forma de agradar à direita cristã – Pence tem posições bastante conservadoras em questões que Trump tem tentado minimizar durante a corrida, adianta o jornal. Isso será particularmente útil para tentar convencer os eleitores da ala evangélica, ainda renitentes em apoiar alguém com a personalidade de Trump. E também os eleitores do chamado “rust belt”, a cintura industrial em declínio económico, que abrange vários estados do Nordeste entre os quais o Indiana e o vizinho Ohio, fundamental na corrida à Casa Branca, analisa a AFP.

Mas a agência francesa chamava a atenção para o facto de que raramente o candidato à vice-presidência faz mudar as intenções de voto nos EUA. “É uma escolha branda, que provavelmente não terá impacto na eleição”, comenta Larry Sabato, politólogo da Universidade da Virginia. Pence será mais “uma escolha por defeito”, interpreta. “Pessoas que seriam melhores recusaram”, continua.

Em todo o caso, a decisão terá a vantagem de colocar em ordem o partido em vésperas da convenção republicana para a investidura do magnata Donald Trump como candidato presidencial, que começa na segunda-feira, em Cleveland (Ohio).

John Podesta, o director de campanha de Hillary Clinton, a rival democrata, acredita que “ao eleger Pence como seu parceiro, Donald Trump revelou algumas das suas crenças mais surpreendentes, escolhendo um candidato incrivelmente divisionista”.

Mike Pence, de 57 anos, é um conservador de credenciais firmadas e com experiência nos meandros de Washington. Neste ciclo eleitoral republicano, começou por ser um apoiante do senador do Texas Ted Cruz, o último rival a sair da corrida à nomeação do candidato do partido para as presidenciais de Novembro. Advogado de formação, foi membro da Câmara de Representantes entre 2001 e 2013, antes de ser eleito governador, e também animador de rádio, por isso é considerado um bom comunicador – mas ao mesmo tempo é discreto. No Twitter, tem-se tornado muito activo a fazer campanha por Donald Trump.

Tem ligações próximas aos irmãos milionários Charles e David Koch, grandes financiadores de causas e candidatos conservadores, que até agora não financiavam Trump.

O governador do Indiana poderia também estabelecer uma ponte entre Trump e o establishment do Partido Republicano – que basicamente continua de costas voltadas para ele. O speaker da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, considera-o um amigo, diz a AFP. “Não poderia pensar numa escolha melhor”, afirmou a seguir ao anúncio.

Politicamente, Pence está mais à direita de Trump nos temas sociais: apoiou legislação muito restritiva do aborto, que retiraria o financiamento oficial à organização Planned Parenthood, que fornece serviços médicos de aborto e planeamento familiar e é um alvo preferido dos políticos americanos mais conservadores. Quando esteve no Congresso opôs-se a acabar com a política "Don't Ask, Don't Tell", ou “Não perguntem, Não digam” no exército, relativa à orientação sexual.

Opôs-se ainda a que refugiados sírios pudessem reinstalar-se no estado do Indiana – em 2015, deu ordem a agências estaduais que não permitissem que uma família síria ali fosse colocada, Mas criticou as declarações de Trump em que este defendeu que todos os muçulmanos deviam ser impedidos de entrar nos EUA.

Mike Pence terá sido o preferido dos filhos de Donald Trump – muito influentes na campanha – entre os vários candidatos que estavam a ser apreciados para formar o ticket republicano. Newt Gingrich, que foi o speaker da Câmara dos Representantes no tempo de Bill Clinton; o governador da Nova Jérsia, Chris Christie; e o senador do Alabama Jeff Sessions também estavam na corrida. Mas, como comentou o politólogo Larry Sabato sobre Gingrich e Christie: “Porquê colocar mais um bloco de dinamite dentro de uma caixa de dinamite?”

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