Director do maior jornal moçambicano afastado por cobrir conferência de imprensa de Dhlakama

O objectivo é "assegurar que o controlo dos conteúdos editoriais do Notícias não fuja do Governo", escreveu o MediaFax.

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MARCO LONGARI/AFP

O director-editorial do Notícias, principal diário moçambicano, foi exonerado do cargo, numa medida vista pela imprensa como consequência da insatisfação do partido no poder, a Frelimo, com a sua presença numa conferência de imprensa do líder da oposição, Afonso Dhlakama.

Num acto a que assistiram os jornalistas do Notícias, publicação editada em Maputo, a presidente do Conselho de Administração da Sociedade Notícias, grupo de media proprietário do jornal, detido maioritariamente pelo banco central, Esselina Macome, justificou o afastamento de Rogério Sitoe com a necessidade de “imprimir uma nova dinâmica” no diário. Mas a imprensa faz uma interpretação diferente das razões do afastamento.

O semanário Savana associa a medida com a ida de Rogério Sitoe a Sadjundjira, centro de Moçambique, onde vive actualmente o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, oposição), Afonso Dhlakama, para uma conferência de imprensa cuja cobertura pelos órgãos de comunicação social moçambicanos terá gerado simpatia da opinião pública em relação aos argumentos do líder da oposição no diferendo que o opõe ao Governo sobre a lei eleitoral.

“Sadjundjira decapita Notícias”, escreveu em título o próprio diário, sugerindo que a presença de Rogério Sitoe num dos baluartes do principal partido da oposição, o texto que escreveu sobre a conferência de imprensa e a actual tensão política provocaram o seu afastamento do caso.

“A deslocação de Sitoe, um jornalista com bom recorte profissional, não foi vista com bons olhos por alguns decisores do regime, sobretudo pela forma como tratou o assunto Sadjundjira”, realça o Savana.

Por seu turno, o diário MediaFax “agarra” na falta de experiência e passado no jornalismo do novo director-editorial do Notícias, Jaime Langa, para fundamentar que a exoneração de Rogério Sitoe se deve ao seu “rigor e profissionalismo”.

“Jaime Langa foi colocado no cargo apenas por conveniência politico-governamental. Ou seja, a ideia é simplesmente para assegurar que o controlo dos conteúdos editoriais do Notícias não fuja do Governo, como nalgum momento parecia estar a acontecer tendo em conta o alto grau de profissionalismo e isenção do anterior director, Rogério Sitoe”.

O Canal de Moçambique também aponta a “destituição de Rogério Sitoe” como resultado da sua ida a Sadjundjira e refere que a indicação do novo diretor editorial do Notícias foi articulada entre o accionista Banco de Moçambique, Governo e Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder.

“Rogério Sitõe foi destituído, entre outras razões, por ter ido a Sadjundjira cobrir a conferência de imprensa do líder da Renamo e ter escrito um texto que não agradou à Frelimo”, diz o jornal, citando fontes internas do Notícias.

Instado pela imprensa em Maputo para se pronunciar sobre as razões da sua exoneração, Rogério Sitoe tem declinado falar a respeito do tema.     

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