Dilma e Lula preparam o PT para uma “luta que não tem data para terminar”

"A história não termina no dia 29, ela começa no dia 29", sublinhou o ex-Presidente do Brasil.

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Dilma Rousseff agradece o apoio num "acto contra o golpe" realizado em São Paulo, na terça-feira REUTERS/Paulo Whitaker

Para o ex-Presidente do Brasil Lula da Silva, o antecessor e mentor político de Dilma Rousseff, a votação do impeachment (destituição) presidencial, marcada para a próxima segunda-feira no Senado, não é o fim da História, mas antes o começo. “Às vezes, a História demora séculos para julgar”, lembrou Lula numa entrevista ao programa Newsnight da BBC, na semana passada.

Antes do julgamento da História, Dilma Rousseff será objecto do julgamento político da oposição: a sua pronúncia será contra a Presidente com funções suspensas, naturalmente, mas também contra Lula e o seu Partido dos Trabalhadores. Esta quarta-feira, a militância e restante base de apoio (principalmente sindical) de Dilma, Lula e o PT ensaiavam uma derradeira reacção contra o que chamam de “golpe parlamentar”, que denunciam como uma usurpação ilegítima do poder: um comício que era, ao mesmo tempo, uma manifestação de apoio a Dilma Rousseff estava agendada para um teatro da capital Brasília.

“A história não termina no dia 29; ela começa no dia 29”, acentuou Lula da Silva, na mesma entrevista à estação britânica, e durante a qual se manifestou tranquilo quanto ao seu próprio futuro político (e também judicial: o ex-Presidente está indiciado por crimes de corrupção e é arguido por obstrução à justiça no âmbito da Operação Lava Jato). No mesmo sentido, Dilma Rousseff referiu-se ao período que agora se inicia, preparando o partido para uma “luta que não tem data para terminar”.

Apesar dos gestos de solidariedade com a líder afastada, Dilma e o PT não têm a mesma visão sobre o que deve ser o futuro, e crucialmente, qual deve ser a orientação para a acção política partidária, no cenário pós-impeachment. Na véspera do início do julgamento no Senado, a cúpula do PT rejeitou oficialmente a proposta que tinha sido avançada por Dilma Rousseff numa carta aberta aos brasileiros, para a realização de um plesbicito sobre a antecipação das eleições, e a aprovação de uma reforma política e eleitoral.

A proposta era uma política: a Presidente sabe que o seu projecto não é concretizável, não só porque o seu sucessor (para já ainda interino) Michel Temer não tenciona demitir-se do cargo, mas também porque a consulta à população, a realização de eleições antecipadas e a aprovação de uma reforma política implicam emendar a Constituição (um processo sempre demorado no Congresso) e uma eventual pronúncia do Supremo Tribunal Federal.

Mais pragmaticamente, poucos partidos no Brasil têm interesse em irem às urnas no momento – isto é, em provocar votações antecipadas e extraordinárias que não estejam previstas no calendário oficial, como as eleições municipais de Outubro, que servirão já como um bom barómetro da reacção do eleitorado ao processo de impeachment. 

O PT não é diferente: resignado à sua incapacidade para travar a destituição de Dilma, e expectante quanto ao impacto da reorganização das forças políticas no Congresso, a prioridade do partido é a sua reinvenção – depois de 16 anos consecutivos de poder, será agora a maior força de oposição. Há dois caminhos e duas facções no partido: os que defendem uma ruptura e os que vêem benefícios em manter um canal aberto com a nova liderança do Congresso e do Planalto.

A Presidente afastada já manifestou a sua intenção de deixar o palco político, retirando alguma carga “negativa” à acção do PT, que continuará, contudo, fragilizado pelas acusações de corrupção contra os seus dirigentes. Segundo o jornal Folha de São Paulo, o partido esperará pelo desfecho das municipais para arrancar com um processo interno, provavelmente para a mudança completa da actual direcção: uma reunião magna está a ser preparada para Dezembro.

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