Das pequenas brigas às guerras mundiais

Plural de “conflito”, que provém do latim, conflictu, e que significa “embate”, “choque dos que estão lutando”. Só que nunca afecta apenas os protagonistas da “luta”, “desavença”, “guerra”. 
Nos últimos dias, o “conflito” na Faixa de Gaza matou centenas de pessoas, certamente alheias às “contendas” antigas entre o Governo israelita e o Hamas e que nada tinham que ver com túneis, rockets ou Cúpulas de Ferro. Só queriam viver em paz. O mesmo se pode dizer dos 298 passageiros mortos no voo da Malaysia Airlines que caiu em território ucraniano, perto da fronteira com a Rússia. Vítimas de outra “guerra”, que em nada lhes dizia respeito. Iam gozar férias, participar em congressos, visitar familiares, viver a vida. Como faz a maior parte de nós, cujos “conflitos” mais comuns que poderemos protagonizar serão os “conflitos de gerações”, “éticos” ou “de interesses”. Mísseis não deveriam entrar nestas histórias. Qualquer que fosse a sua geografia.Perante estas tragédias, torna-se quase ridículo falar do “conflito” entre os professores portugueses e o Ministério da Educação e Ciência pela prova realizada na terça-feira. Sem menosprezo para com a classe, que certamente ajudou a elaborar os dicionários que consultamos, teremos de recorrer a sinónimos mais suaves e inconsequentes: “desaguisado”, “briga”, “oposição”, “barulho”.Preocupante é a clareza com que o dicionário fala em “luta entre nações”, “conflito armado” e “conflito mundial”. No ano em que se assinala o centenário da Primeira Grande Guerra, parece que a humanidade aprendeu pouco. Continua a matar muito. 
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