A meio do caminho, o sonho americano ficou mais difícil para centenas de cubanos

Ao invés das balsas do passado, milhares de cubanos atravessaram nos últimos anos os países da América Central para chegar aos EUA. Centenas descobrem agora que a porta foi encerrada de um dia para o outro.

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Imigrantes cubanos num campo improvisado na fronteira entre o Panamá e a Costa Rica Juan Carlos Ulate/Reuters

O cubano José Enrique Manreza vendeu a sua casa e os seus pertences para embarcar numa viagem épica de avião, autocarro e a pé em busca do sonho americano. Agora está bloqueado numa cidade na fronteira mexicana depois de Washington ter terminado abruptamente a sua política permissiva para a imigração cubana.

“Imagine como me sinto, depois de ter passado seis dias e seis noites a atravessar rios e florestas mergulhado na humidade”, diz Manreza, num abrigo para imigrante na cidade de Tapachula, onde soube da notícia, na companhia de outros 30 cubanos.

Manreza calcula que terá gasto dez mil dólares na viagem, incluindo o voo para a Guiana Francesa, guias através da América Latina e subornos que pagou a agressores que tentaram abusar da filha durante a viagem. “Tive de lhes dar muito, muito dinheiro e agora acontece isto”, lamenta-se Manreza, que geria um armazém de refrigerantes em Havana antes de ter partido, em Dezembro. Diz que vai decidir agora se regressa a Cuba ou se pede asilo no México.  

Só no ano passado, 54 mil cubanos chegaram aos Estados Unidos. Os números caíram nos últimos meses, mas os que estão em viagem através do Panamá contam que há centenas de pessoas no caminho que eles já percorreram, nas traiçoeiras selvas da região de Darien, no istmo que separa a América do Sul da América Central. “Há crianças, grávidas, velhos”, diz Gabriel Alejandro Marín, parte de um grupo de 50 mexicanos em trânsito pela Cidade do Panamá. “Vendemos tudo para terminar assim.”

Milhares de cubanos amontoaram-se na Costa Rica e no Panamá durante o ano passado, com os países da América Central sem conseguir dar resposta ao fluxo de imigrantes. El Salvador já saudou a decisão da Administração norte-americana, dizendo que todos os imigrantes devem ser tratados de forma igual pelos EUA. As Honduras, de onde todos os anos partem milhares de pessoas para os Estados Unidos, mesmo sem terem direito ao tratamento de excepção, diz que prefere esperar para ver se a nova política levará a uma redução do número de cubanos que atravessam o país. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do México remeteu para mais tarde um comentário.

Manreza conta que a mulher, uma enfermeira que está a trabalhar na Venezuela no âmbito do programa cubano de petróleo por médicos. Obama também pôs fim ao programa que permitia ao pessoal médico a trabalhar em países terceiros viajarem para os EUA tendo para isso apenas que se dirigirem à embaixada norte-americana. “Ela chorou quando lhe liguei”, conta o cubano, sem explicar se a mulher estaria a pensar desertar ao abrigo deste programa.

Ivan Diaz, um gestor de saúde de 45 anos, diz que a decisão de Obama o deixou em choque. “Tirou-me o oxigénio”, diz.

Diaz deixou Cuba há três meses com a mulher. Explica que a viagem para os Estados Unidos custou cerca de 25 mil dólares, a ele e à mulher, e só foi possível porque familiares em Miami lhe enviaram dinheiro para os ajudar.

“Tenho dez dólares no bolso”, afirma. “Vamos seguir viagem. Não perdemos nada em ir até à Laredo [na fronteira entre o México e os EUA. Temos de conseguir alguma coisa. Caso contrário eles que me deportem para Cuba.”

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