Coreia do Norte expulsa trabalhadores sul-coreanos do complexo de Kaesong

Coreia do Sul suspendeu a actividade das suas empresas por causa dos testes com mísseis do vizinho, o que Pyongyang considerou ser uma "declaração de guerra".

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O complexo esteve encerrado cinco meses em 2013 AFP

A Coreia do Norte anunciou esta quinta-feira que vai expulsar do seu território os cerca de 800 sul-coreanos que trabalham no complexo industrial de Kaesong, o único exemplo de cooperação entre os dois lados da fronteira.

É um novo passo no mais recente pico de tensão entre as duas Coreias. No domingo, a Coreia do Norte lançou um foguetão de longo alcance com o que disse ser um satélite de observação da Terra, em violação das resoluções da ONU. Antes disso, no dia 6 de Janeiro, anunciou a detonação da sua primeira bomba de hidrogénio – o abalo provocado pela detonação foi registado na Coreia do Sul e no Japão, mas ninguém fora da Coreia do Norte confirmou que se tratou realmente de uma bomba de hidrogénio.

Na quarta-feira, em resposta à detonação de Janeiro e ao lançamento do foguetão, a Coreia do Sul ordenou a suspensão dos trabalhos das suas empresas no complexo industrial de Kaesong, uma decisão que foi contestada pelo maior partido da oposição, o Minjoo, de centro-direita. "Existe a preocupação de que esta decisão vai exacerbar as ameaças à segurança", disse quarta-feira o líder parlamentar do Minjoo, Lee Jong-kul, citado pela agência sul-coreana Yonhap.

Esta quinta-feira, a Coreia do Norte respondeu com o anúncio da expulsão de todos os trabalhadores sul-coreanos, dizendo que a suspensão dos trabalhos pela Coreia do Sul equivale a uma "declaração de guerra".

"Imperdoável é a decisão das marionetas de suspenderem totalmente as operações em Kaesong devido ao teste com uma bomba H e ao lançamento do satélite", declarou a Comissão para a Reunificação Pacífica da Coreia (o Norte costuma referir-se ao Sul como uma marioneta dos Estados Unidos).

O complexo industrial de Kaesong começou a ser construído na primeira metade da década passada e as primeiras empresas sul-coreanas abriram actividade em 2005. É o único exemplo de cooperação entre os dois países e, como tal, é também usado várias vezes como arma de arremesso quando a tensão aumenta.

Apesar de várias ameaças de encerramento e suspensões ao longo dos tempos, o complexo só esteve parado em 2013, durante cinco meses, entre Abril e Setembro, precisamente no auge de um outro pico de tensão nas relações entre as duas Coreias.

O complexo foi construído em território norte-coreano, a cerca de dez quilómetros da zona desmilitarizada e a apenas 50 quilómetros da capital da Coreia do Sul, Seul. As 124 empresas sul-coreanas que operam no complexo empregam 55.000 trabalhadores norte-coreanos e 800 sul-coreanos.

As empresas sul-coreanas pagam o equivalente a cerca de cem milhões de euros por ano em licenças e em salários, mas esses valores são enviados directamente para os cofres do regime de Pyongyang. O salário médio de um trabalhador norte-coreano em Kaesong é o equivalente a 140 euros por mês, mas o regime paga apenas 20% desse valor a cada um deles, em cupões e em moeda norte-coreana, disse à agência Reuters Cho Bong-hyun, especialista em economia da Coreia do Norte no Banco Industrial da Coreia, com sede em Seul.

Para a Coreia do Sul, o complexo de Kaesong é uma oportunidade para abrir as portas do seu estilo de vida aos trabalhadores do Norte. "Estes trabalhadores norte-coreanos estão fortemente armados em termos ideológicos. Nunca fazem nada individualmente. Andam sempre aos pares, incluindo os gerentes. Nunca vão sozinhos à casa de banho, vão sempre em grupo", disse à Reuters Koo Ja-ick, um trabalhador sul-coreano que aguardava autorização para entrar no complexo industrial.

Depois do anúncio de expulsão dos trabalhadores da Coreia do Sul, as acções das empresas cotadas em bolsa que têm actividade no complexo de Kaesong desceram, algumas 10%. Em sentido contrário seguiram as acções das empresas ligadas ao sector da Defesa, segundo a agência Reuters.

 

 

 

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