Os ataques islamófobos em Manchester aumentaram mais de 500%

A polícia pede aos muçulmanos que apresentem queixa sempre que são vítimas de crimes de ódio.

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joana freitas

Os ataques islamofóbicos aumentaram 505% na cidade de Manchester depois de um bombista suicida ter-se explodido durante um concerto de Ariana Grande em Maio, segundo a polícia britânica. No total, foram apresentadas 224 denúncias de crimes de ódio contra muçulmanos no mês após o ataque. No mesmo período, em 2016, tinham sido registados 37, de acordo com os dados oficias citados pelo Guardian.

A polícia britânica garante que este aumento de incidentes islamofóbicos terá repercussões e que serão tomadas medidas para travar o número de casos de crimes de ódio.

A recolha de dados sobre crimes de discriminação contra muçulmanos surgem após o ataque, na passada segunda-feira, nas imediações de uma mesquita de Londres. A polícia deteve um homem de 48 anos que terá planeado o atropelamento que resultou num morto e em dez feridos, dois dos quais em estado grave. As vítimas são todas muçulmanas. Após este ataque, em Finsbury Park, a secretária de Estado para os Assuntos Internos, Amber Rudd, pediu mais recursos policiais — "durante o tempo que for necessário" — para tranquilizar as comunidades muçulmanas. 

O chefe adjunto da polícia de Manchester, Rob Potts, afirma que os números sobre os crimes de ódio na região inglesa voltaram aos níveis normais nos últimos dias. No entanto, adverte que o número real de incidentes pode ser ainda maior, visto que existem situações que não são reportadas às autoridades.

“A área metropolitana de Manchester tem uma população diversa, com pessoas de muitas crenças e contextos sociais, e isso é algo de que nos orgulhamos. É o que nos faz ser a cidade que somos. Não vamos tolerar ódio ou qualquer tipo de discriminação”, afirmou, citado pelo Guardian. "Quando ocorre uma grande tragédia, como os ataques em Manchester e em Londres, não é raro que haja um aumento de crimes de ódio, especificamente contra etnias ou religiões, mas, felizmente, os números de ataques diminuíram rapidamente", acrescentou o oficial.

Os números divulgados pela polícia de Manchester mostram que crimes de ódio religiosos, incluindo a islamofobia, escalaram de 92 para 366 desde o ataque no final do concerto de Ariana Grande, que provocou 22 mortos e 116 feridos. Em comparação com as mesmas quatro semanas do ano passado, o número deste tipo de crimes aumentou 61%, para 778 incidentes. O maior aumento registou-se no crime instigado por ódio anti-muçulmano. 

Na escola secundária islâmica de Manchester para raparigas, uma aluna de 14 anos foi obrigada a ouvir um insulto islamófobo quando um transeunte lhe gritou: "Quando é que vais parar de bombardear pessoas?". A directora da escola, Mona Mohamed, disse ao programa Today da BBC Radio 4 que a adolescente estava "muito chateada e magoada", mas manteve a calma conforme recomendado pelos responsáveis escolares. "Qual é o objectivo de reagir?", questiona a directora da escola. "Essa não é a maneira como vamos enfrentar o terrorismo. O terrorismo não é parte do islamismo. Somos muçulmanos e para nós o Islão é pacífico", concluiu.

"Continuamos a monitorizar os níveis de crimes de ódio que são relatados e é essencial lembrar às pessoas a importância de denunciar, quando um crime de ódio acontece, quer aconteça com o próprio, ou caso se observe um caso”, acrescenta Potts, da polícia de Manchester. "O crime de ódio é muitas vezes subestimado, mas queremos que as pessoas tenham confiança em apresentar queixa porque ninguém deve ser objecto de ódio e intolerância."

A Polícia Metropolitana diz ainda que o volume de crimes de ódio registados, incluindo ataques islamofóbicos, aumentou acentuadamente nos últimos quatro anos. A força policial registou 343 incidentes nos 12 meses até Março de 2013 e 1260 nos 12 meses até Março de 2017. Tell Mama, uma plataforma que regista casos de crimes islamofóbicos, também dá conta esta semana de um aumento no Reino Unido de incidentes que envolvendo muçulmanos.

O Conselho Muçulmano do Reino Unido já pediu o reforço de segurança junto às mesquitas, uma vez que se aproxima o final do mês do Ramadão.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou que o ataque junto a um centro muçulmano em Finsbury Park, na zona Norte de Londres, mostra que “o terrorismo assume várias formas”, mas um mesmo objectivo – dividir o país e fomentar o ódio. 

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