Avaria nos computadores lança caos no escrutínio eleitoral no Quénia

Candidatura de Raila Odinga diz que o processo "não tem integridade", mas garante que não está "a apelar a uma acção de massas".

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As máquinas de leitura das impressões digitais dos eleitores avariaram-se no dia das eleições JENNIFER HUXTA/AFP

A Comissão Eleitoral queniana admitiu nesta quinta-feira que uma avaria no sistema informático anulou uma grande parte dos votos das eleições presidenciais de domingo passado. Issack Hassan, desta comissão, disse que o computador multiplicou por oito os votos rejeitados.

Hassan admitiu o problema mas não especificou como será resolvido . Quando o sistema foi abaixo, os responsáveis pela Comissão Eleitoral deram ordem para o processo começar a ser feito manualmente. E em causa está o declínio acentuado no número de boletins – com o sistema electrónico foram rejeitados 300 mil, com a contagem à mãos apenas 40 mil.
 
O vice do candidato Raila Odinga (actual primeiro-ministro), Kalonzo Musyoka, denunciara durante a tarde desta quinta-feira que havia problemas e defendera que a contagem dos votos devia ser parada por "falta de integridade” do escrutínio. Na última actualização feita da contagem, Odinga estava em segundo lugar, com 1,9 milhões de votos, contra 2,4 milhões do rival Uhuru Kenyatta. Só tinham sido contados alguns círculos eleitorais – e estavam de fora vários favoráveis a Odinga, quando se sabe que no Quénia os eleitores escolhem mais por lealdade tribal do que por filiação partidária. A afluência às urnas neste país com 14,3 milhões de eleitores foi de 70%.

Musyoka sublinhou que não estava a apelar aos seus eleitores para se revoltarem, relata a Reuters - no pensamento de todos está a violência étnica que se seguiu às eleições de 2007, quando morreram 1200 pessoas. “Devemos dizer aos quenianos que não deve haver qualquer acção de massas. Isto não é um apelo à acção. Enquanto coligação, estamos comprometidos com o princípio do Estado de Direito”, sublinhou em conferência de imprensa. Mas lançou acusações: “A coligação toma a posição de afirmar que o processo de contagem de votos a nível nacional não tem integridade e deve ser parada, para que se comecem a usar os documentos primários dos locais de voto”.

O número de votos rejeitados pode vir a ter um grande impacto no resultado final, se nenhum dos candidatos obtiver os 50% necessários para a vitória e for necessário ir a uma segunda volta. Essa segunda ronda eleitoral deverá ser entre Raila Odinga, que perdeu as eleições de 2007 para Mwai Kibaki (houve acusações de fraude generalizada), e Uhuru Kenyatta, que é esperado no Tribunal Penal Internacional de Haia (no dia 9 de Julho; deveria depor em Abril mas o TPI adiou a audiência) para responder sobre crimes de guerra cometidos precisamente durante a vaga de violência de 2007.

No dia das eleições, mais de metade das máquinas que faziam a leitura das impressões digitais dos eleitores avariaram, forçando os responsáveis da comissão eleitoral a voltar aos cadernos eleitorais em papel. A avaria mais grave, no entanto, deu-se no sistema de transmissão de dados, que se baseia em telefonia móvel e deixou de funcionar. A Safaricom, a  fornecedora de serviços de rede, diz que a responsabilidade não é sua, os sistema funcionavam, o equipamento usado, que não era seu, é que teve problemas.  
 

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