Campos de refugiados: quando o frio bate à porta

Hoj, enfrentamos todos um grande risco: o da indiferença.

A imagem que se tem dos refugiados está claramente marcada pelas imagens das suas chegadas à Europa. São as longas travessias, que tanto têm de desumano como de heroico. E também os campos em que foram acolhidos e nos quais trabalham diversas organizações de ajuda humanitária. Mas longe do imaginário comum está a sua situação atual que, mais uma vez, testa os limites da resistência humana.

As condições climatéricas agrestes, marcadas pelo frio gelado e propício à doença, tornam a atual situação desesperante. É verdade que o Inverno é para todos, mas para alguns é mais Inverno do que para outros. A situação nos campos de refugiados tem-se complicado e as condições frágeis, que mais de 22 mil pessoas enfrentam, ameaçam gravemente a sua saúde.

Por exemplo, em Lesbos, onde a Médicos do Mundo tem operação, os relatos são preocupantes. Mais de 31% dos casos, que assistimos todos os dias nas nossas consultas, têm origem em doenças respiratórias – pneumonias, bronquites e asma – e afetam principalmente crianças, mulheres e pessoas idosas. Como se pode ajudar estas pessoas a resistir às condições climatéricas?

As equipas de ajuda humanitária trabalham arduamente para prestar a sua missão social da melhor forma, mas a sobrelotação dos espaços, a falta de comida ou de condições de higiene ameaçam a saúde, não só dessas pessoas, mas de todos nós.

São mais de 200 organizações que estão a intervir para evitar o agravamento, ainda maior, das condições. Mas, infelizmente, os cuidados médicos, a comida e os cobertores que distribuímos apenas atenuam a situação e não chegam para todos.

Para combatermos este flagelo necessitamos de estar conscientes desta situação. É um primeiro passo para querermos resolver uma situação que coloca em causa a dignidade de todos nós. Quando nos propomos a considerar o Humano, não somos alheios à noção do que nos une enquanto membros de uma comunidade global. E neste sentido não posso deixar de mencionar a importância que a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem para toda a Humanidade.

Todos somos suscetíveis ao frio, à fome, à doença. O cuidado e acesso básico à saúde não é um cuidado desta ou daquela pessoa, mas de todos nós. E, hoje, enfrentamos todos um grande risco: o da indiferença.

 

 

 

 

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