Barnier rejeita propostas britânicas para a fronteira na Irlanda do Norte

Negociador europeu para o "Brexit" diz que terá de haver flexibilidade, mas Londres não pode pedir à UE que suspenda a aplicação das suas leis.

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Barnier voltou a mostrar a sua impaciência com o rumo das negociações OLIVIER HOSLET/EPA

Michel Barnier, o principal negociador da União Europeia para o “Brexit”, considerou inaceitável a proposta do Governo britânico para manter a fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda tão invisível como até agora – um dos temas centrais da primeira fase das negociações que Bruxelas assume já não estarem a decorrer como esperado.

“Aquilo que vejo na posição britânica [apresentada a 16 de Agosto] sobre a Irlanda preocupa-me”, disse Barnier, nesta quinta-feira em Bruxelas, depois de a equipa que lidera ter publicado cinco novos documentos com a posição da UE em áreas incluídas nesta fase das negociações. Um deles refere-se à fronteira irlandesa, com Bruxelas a defender que o “ónus da apresentação de soluções” recai ao Reino Unido, pois o problema foi criado pela decisão britânica de sair da UE.

Um tom que Barnier manteve na conferência de imprensa desta quinta-feira. Assumiu que para a UE, tal como para Londres, é vital salvaguardar o processo de paz na Irlanda do Norte, evitando a criação de barreiras na fronteira entre as duas metades da ilha, o que irá obrigar as duas partes a mostrarem flexibilidade. Mas aquilo que Londres propõe, afirma, “é que a UE suspenda a aplicação das suas leis, da sua união aduaneira e do seu mercado único naquela que será uma nova fronteira externa”, usando-a como “um caso teste para o futuro suas relações aduaneiras” entre as duas partes. “Isso não acontecerá”, garantiu, insistindo que o modelo que for encontrado para ali não será replicado noutros locais.

A proposta britânica exclui a criação de quaisquer barreiras físicas, controlo de mercadorias ou sequer câmaras de vigilância naquele que foi um ponto quente do conflito na Irlanda, isentando também as pequenas e médias empresas de quaisquer tarifas ou controlos aduaneiros. Londres sublinhava a necessidade de encontrar soluções “flexíveis e imaginativas” para a gestão daquela que será a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a UE após o “Brexit”, mas responsáveis europeus disseram que as sugestões britânicas assentavam num “pensamento mágico”.  

Durante o encontro com jornalistas, o negociador europeu voltou a mostrar a sua impaciência com o rumo das negociações, dizendo que a parte britânica “parece estar a recuar na promessa que assumiu de honrar os seus compromissos passados”, resistindo a negociar as contribuições financeiras que terá de saldar antes de deixar a UE.

Barnier afirmou ainda que qualquer tentativa para criar divergências entre ele e os líderes europeus “é uma perda de tempo”, sublinhando que foram os chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados-membros que definiram os termos do seu mandato para negociar com Londres. 

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