Áustria planeia controlos na fronteira com Itália para travar migrantes e enfurece Roma

Número de chegadas por mar aos portos italianos aumentou 20% nos primeiros seis meses do ano. Governo de Gentiloni exige mais solidariedade dos parceiros europeus.

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Desde o início do ano quase 85 mil migrantes desembarcaram em Itália Stefano Rellandini/Reuters

Os planos anunciados pela Áustria para repor os controlos na fronteira com a Itália, receando um aumento da entrada de imigrantes no seu território, mostra como a União Europeia continua dividida na resposta a dar à crise migratória. Nas últimas semanas, milhares de pessoas foram resgatadas no Mediterrâneo e levadas para Itália, o que fez o governo de Paolo Gentiloni exigir maior solidariedade dos parceiros, chegando mesmo a sugerir que poderia encerrar os seus portos a barcos transportando migrantes.

O cenário está longe do vivido em 2015 – quando cerca de um milhão de pessoas, grande parte fugidas às guerras na Síria e Iraque, cruzaram o Egeu em direcção à Grécia –, mas Itália diz ter razões para estar alarmada. Dos quase cem mil migrantes que chegaram na primeira metade do ano à Europa, quase 85 mil desembarcaram em Itália, um aumento de 20% face a igual período do ano passado. São na sua maioria oriundos da África subsariana (e por isso classificados à partida como imigrantes económicos, logo não incluídos no plano de redistribuição de refugiados) que partem das costas da Líbia, onde o caos reinante permite às cada vez mais profissionalizadas redes de contrabandistas operar sem controlo.  

A chegada do Verão, com o aumento da temperatura e a melhoria das condições do mar, faz prever um aumento ainda maior das chegadas nos próximos meses.

Perante estes dados, o ministro da Defesa austríaco, Hans Peter Doskozil, disse nesta terça-feira a um jornal nacional que “muito em breve serão introduzidos controlos” na passagem de Brenner, o principal posto fronteiriço com Itália. Um porta-voz de Doskozil explicou depois que Viena enviou já para a zona quatro blindados – “não são tanques de guerra” – e tem 750 soldados prontos a ser destacados. “Se a situação se agudizar em Itália estamos preparados para evitar uma situação comparável à de 2015”, afirmou. Há dois anos a Áustria recebeu milhares de refugiados, mas acabaria por ser um dos promotores do encerramento de fronteiras que levou ao fecho da rota dos Balcãs.

Com o agravamento da situação em Itália, e a meses das legislativas (em que a imigração promete ser um tema quente) o Governo austríaco tem deixado a pairar no ar a possibilidade de repor os controlos na passagem de Brenner, um posto vital nas ligações terrestres entre o Sul e o Norte da Europa, apesar de o Governo italiano avisar que a iniciativa violaria a lei europeia.

As declarações de Doskozil levaram o Ministério dos Negócios Estrangeiros italianos a chamar o embaixador austríaco em Roma para pedir explicações – um gesto de reprovação pouco habitual entre parceiros europeus. “Estou francamente surpreendido com estes comentários”, disse o ministro do Interior italiano, Marco Minniti, sublinhando que tal iniciativa seria “injustificada”, “sem precedentes” e “iria inevitavelmente criar repercussões na cooperação de segurança”. Já depois, o seu homólogo austríaco, Wolfgang Sobotka, assegurou que não há, neste momento, razões para repor os controlos na fronteira.

Itália pede mais solidariedade

Na segunda-feira, depois de 12 mil pessoas terem chegado aos portos italianos em poucos dias, França, Alemanha e a Comissão Europeia prometeram mais dinheiro para ajudar Itália a lidar com o aumento das chegadas e para financiar a debilitada guarda-costeira líbia, embora sem revelar montantes. Mas o executivo de Gentiloni, pressionado pela oposição de direita, insiste que a responsabilidade não pode continuar a recair exclusivamente sobre Itália.

Uma das suas principais queixas é que todos os migrantes resgatados ao largo da Líbia – mesmo que seja em águas internacionais por barcos matriculados noutros países – são levados para os portos italianos. Na semana passada, Roma fez saber que iria pedir a Bruxelas autorização para recusar a entrada a embarcações que não tivessem a bandeira italiana ou não pertencessem às duas missões europeias a actuar na zona.

A ideia, que violaria a lei marítima internacional, foi abandonada, adianta o jornal Guardian, mas o El País noticiou segunda-feira que Roma está a tentar convencer Espanha a permitir que alguns destes barcos sejam encaminhados para os seus portos.

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