Austrália e Nova Zelândia olham para Pequim para salvar a TPP

Trump retirou-se do acordo que pretendia evitar a hegemonia chinesa na Ásia-Pacífico. Agora, é para a China que olham os países que querem um maior envolvimento numa zona estratégica do comércio mundial.

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O primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull lidera esforços para conseguir um tratado que inclua a China
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O primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull lidera esforços para conseguir um tratado que inclua a China DAVID GRAY/Reuters

A Austrália e a Nova Zelândia estão empenhadas em salvar a Parceria Transpacífico, um acordo comercial do qual Donald Trump, o novo Presidente norte-americano, retirou os EUA. A chave poderá ser a China.

Os Estados Unidos assinaram a TPP, essencial na política para a Ásia do ex-presidente Obama, mas não o ratificaram. A ideia de Austrália e Nova Zelândia é alargar o grupo da TPP tanto à China, como a outros países da região. As declarações aconteceram horas depois de Trump assinar uma ordem para retirar formalmente os EUA desta parceria. 

Assim, uma das primeiras medidas de Trump, que tem vindo a assumir uma postura de desafio em relação a Pequim, pode acabar por fortalecer justamente a China. Esse foi o comentário do primeiro-ministro neozelandês, Bill English, que disse que os Estados Unidos estavam a “ceder influência” à China com esta decisão, uma das primeiras do presidente Trump.

“Ficar sem os Estados Unidos é uma grande perda para a TPP, mas não vamos desistir”, disse o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, acrescentando que já iniciou discussões com países parceiros (Singapura e Japão, para além da Nova Zelândia), para salvar o acordo.

“A arquitectura original [da TPP] era permitir a entrada de mais países”, disse o ministro australiano do Comércio, Steven Ciobo, à televisão Australian Broadcasting Corporation. “Sei que a Indonésia expressou interesse e que haverá lugar para a China, se o reformularmos.”

Mas num artigo no site da ABC australiana a iniciativa é vista como podendo deixar a Austrália “condicionada num potencial confronto entre os EUA e a China”.

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Japão preocupado

O Japão, que sempre considerou ser a TPP um contrapeso à ascensão da China, vê esta proposta de mudança com cepticismo. O vice-ministro japonês Koichi Hagiuda disse que Tóquio não admite participar num tratado sem os EUA. “Como o primeiro-ministro, [Shinzo] Abe, deixou claro, a TPP sem os Estados Unidos não tem sentido e o equilíbrio de interesses irá desfazer-se.”

A Parceria Transpacífico foi negociada durante oito anos entre EUA, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, México, Peru, Chile, Japão, Vietname, Malásia, Singapura e Brunei. Junta 20% do bolo do comércio mundial e 40% do conjunto do PIB global.

A China, o maior exportador do mundo, não respondeu directamente ao repto. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse apenas: “Na situação presente, e aconteça o que acontecer, devemos todos seguir o caminho de um desenvolvimento contínuo, inclusivo, tentando obter cooperação e benefício mútuo.”

A China tem protagonizado uma negociação alternativa à TPP com a RCEP (Parceria Regional Económica). Hua disse que as conversações sobre a RCEP poderiam estar concluídas em breve. Se a TPP ficar comprometida depois da retirada americana, muitos países da região podem voltar-se para esta iniciativa chinesa.

“Este acordo RCEP com o Sudeste asiático, que tem estado um pouco em banho-maria, poderá talvez encontrar a vontade política para arrancar, se a TPP não for em frente”, disse o primeiro-ministro da Nova Zelândia.

Este inclui os dez Estados da ASEAN (Camboja, Indonésia, Laos, Birmânia, Filipinas, Tailândia e também os signatários da TPP Brunei, Malásia Vietname e Singapura) e seis com os quais a organização tem acordos individuais de comércio livre (China, Índia, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Japão, incluídos na TPP). Se a RCEP for aprovada, pode envolver 24% do PIB mundial. Não inclui, no entanto, as protecções para as condições de trabalho e direitos humanos expressas na TPP.

A China disse ainda que os esforços para a Zona de Comércio Livre da Ásia-Pacífico FTAAP deveriam ser redobrados. A FTAAP é um objectivo de longo prazo para harmonizar os vários acordos de comércio livre na região e tanto a TPP como a RCEP seriam um modo de a realizar. 

 

 

 

 

 

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