Ataques aéreos abrem caminho ao avanço do Exército sírio em Alepo

Maior hospital do Leste foi bombardeado pela segunda vez nesta semana. Rússia avisa EUA que intervenção directa na Síria desencadeará “movimentações tectónicas” no Médio Oriente

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Civis resgatam vítimas de um bombardeamento em Alepo na sexta-feira Thaer Mohammed/AFP

Pela segunda vez em quatro dias o maior dos poucos hospitais que restam no Leste de Alepo foi bombardeado – desta vez por barris carregados de explosivos que mataram pelo menos uma pessoa. Incapaz de travar a violenta ofensiva das forças governamentais sírias e da aviação russa para capturar os bairros em poder dos rebeldes, a diplomacia ocidental exaspera-se, o que mais não fez do que levar Moscovo a lançar novos avisos.

Uma “agressão directa” dos Estados Unidos ao regime sírio desencadearia “movimentações tectónicas e aterradoras” no Médio Oriente, afirmou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo numa aparente resposta a uma gravação, divulgada pelo New York Times, de uma conversa do secretário de Estado norte-americano com representantes sírios à margem da Assembleia-Geral da ONU.

Segundo o jornal, John Kerry não esconde a sua frustração com a falta de iniciativa da Administração norte-americana no conflito sírio, lamentando que Washington há muito tenha descartado a ameaça de intervenção militar, tirando força à acção diplomática.

A inacção frusta mais do que ninguém os grupos sírios pró-ocidentais, sobretudo agora que Alepo está debaixo dos bombardeamentos mais intensos desde que a guerra chegou à grande cidade do Norte da Síria, em 2012.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que reúne informações de uma rede de activistas, diz que desde o início da ofensiva terrestre, a 22 de Setembro, as bombas da aviação russa, os barris de explosivos largados pelos helicópteros sírios e os disparos de artilharam mataram 220 pessoas nos bairros controlados pela rebelião. As Nações Unidas apontam para 400 mortos em apenas uma semana e usam hipérbole sobre hipérbole para alertar que os 250 mil civis cercados na zona enfrentam “a maior catástrofe humanitária jamais vista na Síria”.

Neste sábado, os ataques aéreos concentraram-se junto à linha da frente, na parte Norte da cidade, com o Exército sírio a garantir que “o alto nível de coordenação” com a aviação russa tinha permitido às forças governamentais fazer avanços no bairro de Suleiman al-Halabi, junto à citadela de Alepo, aproximando-se de Bustan al-Basha, imediatamente a Norte. O correspondente da AFP no Leste da cidade deu conta de fortes bombardeamentos e intensos combates durante toda a noite e manhã.

Foi neste frenesim que o hospital M10, desactivado já por um ataque aéreo na quarta-feira, foi atacado de novo. A Sociedade Médica Americano-Síria, que gere a unidade, revelou que além dos barris de explosivos “há informações da utilização de uma bomba de fragmentação” contra o hospital, situado no bairro de Sakhour.

Este ataque “confirma a urgência absoluta de uma cessação das hostilidades”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, recordando o projecto de resolução apresentado por Paris ao Conselho de Segurança a exigir a reposição da trégua negociada pelos EUA e Rússia e que colapsou menos de uma semana depois de ter entrado em vigor, a 12 de Setembro.

Uma via que parece, no entanto, cada vez mais fechada, depois de a Rússia ter garantido na quinta-feira que vai continuar a apoiar a ofensiva síria contra as “forças terroristas” e de ter acusado Washington de estar a proteger os jihadistas da Frente al-Nusra, que foi até há pouco o braço da Al-Qaeda na Síria e é o mais bem armado dos grupos que combatem o regime sírio. Por seu lado, os EUA dão mostras de não estarem ainda dispostos a cumprir a ameaça de suspender toda a cooperação com Moscovo na Síria, mas só admitem voltar a negociar se Moscovo suspender as suas operações.

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