Área de cultivo de coca na Colômbia cresceu 50% num ano

Relatório da agência antidroga da ONU mostra que o cultivo disponível no país regressou a níveis de 2001.

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A área de plantação e as apreensões conheceram taxas de crescimento semelhantes JOSE MIGUEL GOMEZ

Imagine 64.102 campos de futebol. Essa é a nova área de cultivo de coca que surgiu na Colômbia em 2016. Num ano, o país ganhou 50 mil hectares de novas plantações – uma área equivalente a 5,9 vezes a área de Lisboa ou uma vez e meia a área do estuário do Tejo. Conclusão: entre 2015 e 2016, a área de cultivo da planta usada para fabricar cocaína cresceu 52% de 2015 para 2016.

Os dados são da agência antidroga e anti-crime das Nações Unidas (UNODC, na sigla inglesa) e constam de um relatório divulgado na sexta-feira. A Colômbia tinha, no final de 2016 uma área total de cultivo de coca equivalente a 15,9% do território de Portugal (ilhas incluídas), isto é 146 mil hectares. Ou seja, uma área semelhante à que havia em 2001.

Um resultado “desolador”, afirma aquela agência, no texto que acompanha o relatório (disponível na UNODC em formato PDF, espanhol). Porém, nem tudo são más notícias, lê-se no comunicado: as apreensões deste tipo de estupefaciente também aumentaram, em 49%.

“As condições [na Colômbia] são favoráveis a uma mudança”, diz o comunicado, uma ideia depois concretizada no sumário executivo do próprio relatório. “Nos últimos anos, o país tem vivido num cenário de transição na estratégia de luta contra as plantações ilegais”, salientam os autores, mas também houve algo que mudou, para pior: “Há a percepção de que o risco associado à actividade ilícita é menor”, devido a medidas do Governo de Bogotá para ajudar comunidades pobres – tradicionalmente as que mais se dedicam a esta produção.

Essa realidade encontra-se aliás reflectida nos dados: as novas áreas de cultivo surgiram sobretudo nas regiões que mais se dedicavam à produção de coca.

Além disso, acrescenta a UNODC, “foram introduzidos termos como cultivos de uso ilícito para substituir o conceito de cultivo ilícito”, o que, segundo o relatório, “foi interpretado por algumas comunidades como uma autorização para semear coca dado que o que é ilegal é o uso e não o cultivo”.

Para a comunidade internacional, o relatório comprova ainda que o frágil acordo de paz obtido pelos partidos colombianos com os guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) não é suficiente para travar o narcotráfico, mas a UNODC acredita que a Colômbia pode estar no caminho certo desde que se focou na “transformação do território e das comunidades”.

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