Arábia Saudita suspende diálogo com Qatar após telefonema

Depois daquele que terá sido o primeiro contacto entre os líderes dos dois países desde o corte de relações diplomáticas com o Qatar, em Junho, a Arábia Saudita anunciou que suspende qualquer diálogo com o Governo de Doha.

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O telefonema ao príncipe herdeiro saudita foi feito pelo emir do Qatar, xeque Tamin ben Hamad Al-Thani (na imagem) Reuters/FADI AL-ASSAAD/ARQUIVO

Passou de pouco mais do que uma miragem a possibilidade de o Qatar e a Arábia Saudita darem um passo para pôr fim ao conflito diplomático que tem tomado conta do Golfo Pérsico nos últimos meses. Os líderes dos dois países no centro da crise falaram ao telefone, mas um desacordo sobre o teor do telefonema deixou tudo na estaca zero.

Depois de ambos terem conversado com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o emir do Qatar, xeque Tamin ben Hamad Al-Thani, e o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, falaram ao telefone na noite de sexta-feira, naquele que foi o primeiro contacto formal desde que estalou a crise diplomática, no início de Junho.

Os media estatais dos dois países noticiaram o telefonema, mas foi nos detalhes que esteve o diabo. A SPA saudita disse que o líder qatari “exprimiu o seu desejo de se sentar à mesa de negociações e discutir as exigências dos quatro países”, referindo-se à Arábia Saudita, Bahrain, Egipto e Emirados Árabes Unidos, que desde Junho estão de relações cortadas com Doha.

A agência noticiosa do Qatar, QNA, revelou que a Arábia Saudita se disponibilizou a nomear “dois enviados para abordar as questões controversas de uma forma que não afecte a soberania dos Estados”.

Poucas horas depois de o telefonema ter sido divulgado, o Governo saudita acusou o Qatar de não ser “sério” na sua intenção de iniciar um processo de diálogo e renovou a suspensão das relações entre os dois países. Riade diz que o relato reproduzido pela agência QNA “é a continuação da distorção dos factos pelas autoridades qataris”.

A declaração do Governo saudita sugere que a QNA não foi explícita quanto à circunstância de o pedido para entrar em contacto com o príncipe Salman ter partido de Doha. “Qualquer diálogo ou comunicação com as autoridades do Qatar será suspenso até ser publicada uma declaração clara explicando a sua posição”, exige o Governo.

A 5 de Junho, a Arábia Saudita anunciou um corte de relações diplomáticas com o Qatar, acusando o emirado de apoiar o terrorismo. Um dos principais pontos de conflito são as relações próximas entre o Governo de Doha e o Irão, com quem a Arábia Saudita tem disputado nos últimos anos uma luta pela hegemonia regional. Ao lado de Riade posicionaram-se mais três países árabes, deixando o pequeno Estado de 2,5 milhões de habitantes efectivamente isolado. Foram bloqueadas todas as rotas aéreas e marítimas entre o grupo de quatro países e o Qatar, que é o maior exportador de gás natural liquefeito.

O restabelecimento das relações com Doha ficou dependente do cumprimento de uma série de exigências, incluindo o encerramento da cadeira pan-arábica Al-Jazira, que a Arábia Saudita e os seus aliados dizem divulgar e incentivar “actos terroristas”.

O Kuwait, que se manteve neutro na disputa, tem tentado mediar um entendimento entre as duas partes, embora sem sucesso. Na sexta-feira, Trump tentou articular um regresso ao diálogo. “Todos os países devem cumprir os compromissos de enfrentar o terrorismo, cortar o financiamento a todos os grupos terroristas e combater a ideologia extremista”, disse o Presidente dos EUA.

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