Apoio à independência desce mas num referendo ganha o “adeus” a Espanha

Desde o arranque da actual campanha separatista, em 2012, nunca houve tão poucos catalães a defender o independentismo.

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Nunca houve tantos independentistas assumidos como em 2013 Albert Gea/Reuters

Nos jornais de Madrid as notícias arrancam com uma parte dos dados; nos diários catalães a narrativa é outra. Todos dizem a verdade – os partidários da independência da Catalunha, que os dirigentes da região querem referendar a 1 de Outubro, nunca foram tão poucos desde o início da actual vaga secessionista. Ao mesmo tempo, dos 67,5% de eleitores que contam votar se a consulta for mesmo para a frente, 62,4% votaria “sim”, contra 37,6% que escolheria “não”.

Quando os entrevistadores do Centro de Estudos de Opinião (CEO), que depende da Generalitat (governo regional), perguntam aos catalães se “querem que a Catalunha seja um Estado independente”, 49% opõe-se e 41,1% concorda. A distância entre uns e outros é a maior desde que o CEO incorporou a questão nestes termos nas suas sondagens trimestrais, em 2014. Em Março, na anterior sondagem, 44,3% defendia a independência. “É uma redução considerável”, diz Jordi Argelaguet, director do centro que divulgou esta sexta-feira os novos dados.

Quem se opõe à separação pode festejar ainda mais um resultado do inquérito. Neste caso, em vez de uma pergunta de “sim” ou “não”, oferecem-se quatro opções para o futuro da Catalunha: Estado independente (é o que deseja 34,7%, o valor mais baixo desde Fevereiro de 2012; em Novembro de 2013 registou-se o mais alto, com 48,5%); uma comunidade autónoma de Espanha, como hoje (30,5%); “um Estado dentro de uma Espanha federal” (21,7%); ou uma região de Espanha (5,3%).

A questão de base desde que o tema irrompeu pelo debate político é o chamado “direito a decidir”, que Madrid diz não existir quando em causa está a integridade do Estado espanhol. Ora, os partidários de que se realize um referendo, com ou sem a concordância do Governo central, desceram de 50% para 48% em três meses, mas 67,5% dos inquiridos mantêm a intenção de votar a 1 de Outubro, com 62,4% decididos a dizer “sim”.

A crise económica e as políticas de austeridade (com a defesa de que a Catalunha estaria melhor sozinha) somada a várias guerras entre a Generalitat e o PP de Mariano Rajoy desencadearam uma vaga separatista a partir do fim de 2012. Desde então, já se organizou uma consulta não vinculativa e o Tribunal Constitucional deu sempre razão a Madrid ao declarar ilegal qualquer referendo ou declaração de independência.

Até agora, as batalhas têm-se travado essencialmente nos discursos e nos tribunais. Este ano a guerra subiu de tom. A Generalitat garante que o referendo vai acontecer – e que se o “sim” vencer será declarada a independência unilateral em 48 horas – e Madrid que tudo fará para o impedir.

Para evitar que os dirigentes catalães usem dinheiro para organizar a ida às urnas, por exemplo, o Governo de Rajoy acaba de impor um regime especial de acesso ao Fundo de Liquidez Autonómica. A partir de agora, os responsáveis económicos de cada departamento ou entidade pública que mexa com dinheiro na Catalunha terão de provar que não iniciaram nenhum investimento ligado aos preparativos do referendo. Vão fazê-lo semanalmente junto do Ministério das Finanças.

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