Ao segundo dia da visita ao Vietname, Obama fez a defesa da democracia

Pelo menos três activistas impedidos de participar em encontro com Presidente americano. “Garantir os direitos dos cidadãos não é uma ameaça à estabilidade", afirmou.

Obama foi recebido em euforia à chegada a Ho Chi Min.
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Obama foi recebido em euforia à chegada a Ho Chi Min. Carlos Barria/Reuters
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Obama, que na segunda-feira jantou com Anthony Bourdain, voltou a encontrar-se com o chefe em Hanói, antes de partir para Ho Chi Min JIM WATSON/AFP

Barack Obama despediu-se de Hanói, a capital do Vietname, com um apelo explícito à democratização do país – antigo inimigo de guerra a quem Washington trata agora por “parceiro”, mesmo que lhe aponte falhas graves no respeito pela liberdade dos seus cidadãos.

Apesar das “modestas” reformas dos últimos anos, “ainda há pessoas para quem é muito difícil reunir-se ou organizar-se de forma pacífica para lidar com assuntos que lhe são caros”, disse o Presidente norte-americano depois de um encontro com seis activistas e representantes da sociedade civil vietnamita. Uma reunião discreta, depois da pompa dos encontros da véspera com os dirigentes do país, num dia que ficou marcado pelo fim do embargo norte-americano à venda de armas ao país.

Pelo menos três dissidentes foram impedidos de participar no encontro, incluindo o Nguyen Quang A, antigo empresário que foi um dos mais de cem independentes que tentaram candidatar-se às eleições de domingo passado para o Parlamento, sob domínio do Partido Comunista. O activista contou à Reuters que 10 polícias chegaram a sua casa ao início da manhã, levaram-no de carro para fora da capital e só foi libertado depois de o Presidente norte-americano deixar Hanói.

Criticado por levantar o embargo antes de o regime comunista ter melhorado a situação dos direitos humanos no país – a Human Rights Watch lembrou que nas prisõpes vietnamitas estão mais de cem presos políticos –, Obama foi mais explícito do que na véspera nas críticas à falta de democracia no país. “Ainda há áreas que nos preocupam de forma significativa, em termos de liberdade de expressão, liberdade de reunião e da forma de actuação do governo”, afirmou no final da reunião, que Ma Khoi, cantora pop e militante pró-democracia, disse ter carimbado o “reconhecimento oficial do movimento para uma sociedade civil independente no Vietname”.

As críticas foram a nota dissonante numa visita de Estado dominada pela aproximação entre os antigos inimigos. No discurso que proferiu depois no centro nacional de convenções, transmitido em directo pela televisão estatal, Presidente norte-americano repetiu a mensagem, mudando apenas o tom. “Garantir os direitos dos cidadãos não é uma ameaça à estabilidade”, afirmou, num discurso muito aplaudido. “Quando os candidatos podem apresentar-se livremente a eleições, o país torna-se mais estável porque os cidadãos sabem que o seu voto conta […]. Onde há liberdade de expressão gera-se a inovação que leva as economias a prosperar”, acrescentou. Mais à frente, reconheceu que também há “falhas” no respeito pelos direitos humanos nos EUA. “Nenhum país é perfeito. Também nós tempos problemas e não somos imunes à crítica”, mas “esse escrutínio ajudou-nos a tornarmo-nos mais fortes, mais prósperos e mais justos”.

Mas a intervenção ficou também marcada pelo elogio ao longo caminho percorrido entre os dois países desde o final da guerra – uma evolução que a sua chegada à antiga Saigão, hoje Ho Chi Min, ilustrou, com milhares de pessoas esperando a passagem da limusina do Presidente americano, empunhando bandeiras e cartazes onde se lia: “Obama, nós adoramos-te”. “Podemos agora dizer uma frase durante muito tempo impensável: hoje, o Vietname e os EUA são parceiros”, afirmou o Presidente, voltando a colocar-se ao lado de Hanói na disputa com Pequim nas disputas territoriais no mar da China. “As grandes nações não podem intimidar as mais pequenas”, afirmou, num recado que gerou uma resposta imediata: “O tamanho de um país não deve ser usado como critério para determinar se as suas posições são justificadas”, afirmou uma porta-voz da diplomacia chinesa.

E ao simbolismo de toda a viagem, a que se seguirá uma histórica visita a Hiroshima, no Japão, Obama juntou ainda um ingrediente de reality show, ao trocar jantares oficiais por um bun cha, sopa tradicional vietnamita, na companhia do chef e apresentador Anthony Bourdain, num modesto restaurante de Hanoi. Bourdain, que está no Vietname a gravar um episódio da série Viagem ao Desconhecido para a CNN, colocou uma fotografia da refeição no Instagram em que garantia que “o Presidente domina a técnica dos pauzinhos”.  

 

 

 

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