Angela Merkel não recua na política de acolhimento aos refugiados

O partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha teve resultados surpreendentes. A chanceler desvaloriza as duas derrotas regionais da CDU e diz que está no bom caminho.

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Angela Merkel perdeu dois estados, mas mantém a política para os refugiados Reuters

Angela Merkel garantiu esta segunda-feira que vai manter a sua política para com a migração, apesar da derrota do seu partido em duas eleições regionais que revelaram a forte oposição dos cidadãos alemães à presença de refugiados através da subida de um partido de extrema-direita e anti-imigração.

"O Governo federal vai usar todas as suas forças para garantir o curso da sua política para com os refugiados a nível nacional e internacional", indicou o porta-voz da chanceler alemã, Steffen Seibert. "Foram feitas algumas coisas, vão ser feitas outras. O objectivo é encontrarmos uma solução europeia comum, permanente e que em cada país o número de refugiados [que chegam] baixe de forma notória", acrescentou o porta-voz.

No domingo, 12 milhões de eleitores votaram pela primeira vez desde que entraram na Alemanha mais de um milhão de pessoas que pediram asilo. Foram a votos três dos 16 estados federados, Baden-Württemberg (grande região industrial que a CDU perdeu em 2011 e recuperá-lo era o grande objectivo), Renânia-Palatinado (grande produtor de vinho) e Saxónia (na zona ocidental), tendo a CDU perdido votos em todos e só conseguindo vencer no último.

O partido que se evidenciou foi a Alternativa para a Alemanha (AfD), uma formação jovem, nascida em 2013, que capitalizou o sentimento anti-imigração que cresce no país. "Nunca um partido entrou na cena política [alemã] desta forma tão estrondosa. E os que observam o resto da Europa sabem bem que o AfD não desaparecerá da mesma forma rápida", sublinhava numa análise o Stuttgarter Zeitung, citado pela AFP. Este jornal dizia que a ascensão do AfD insere-se num contexto europeu em que se assiste, há anos, do Reino Unido à Eslováquia, ao ganhar de terreno de movimentos de extrema-direita.

O porta-voz de Merkel sublinhou que a chanceler não cederá aos seus adversários que exigem uma mudança de política, para que nem a Alemanha nem a Europa recebam mais refugiados e imigrantes sem que exista uma quota.

Horst Seehofer, o líder da CSU, o aliado da CDU (o partido de Merkel) na Baviera, é um dos que se opõem à política da chanceler e considerou esta segunda-feira que o resultado das regionais foi "a resposta" do eleitorado à opção "fica tudo como está" de Merkel.

Nas suas análises, os órgãos de comunicação social alemães dizem que, apesar dos resultados da CDU, e de Angela Merkel já estar bastante isolada, quer em casa, quer na Europa, ainda não está (ou não se sente) ameaçada. "Quem, na CDU, quer ou pode contrariá-la?", perguntava o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

A generosa política de acolhimento dos refugiados esteve no centro do debate político nos estados que votaram e os resultados excepcionais da AfD nas três regiões (entre 12% e 24%) mostram que há divergências entre os alemães.

Merkel recusa barricar o seu país – ainda que tenha voltado a confirmar esta segunda-feira que o encerramento da chamada "rota dos Balcãs", decidida unilateralmente e que está a impedir os refugiados e imigrantes de saírem da Grécia, seja benéfica à Alemanha, pois reduziu substancialmente a chegada de mais gente ao seu país. Entre Janeiro e Fevereiro, o fluxo de chegadas à Alemanha desceu 33% devido ao encerramento das fronteiras na região balcânica.

"É incontestável que a Alemanha sai beneficiada, mas não é uma solução duradoura e vemos isso todos os dias nas imagens que nos chegam da Grécia", disse Merkel perante os jornalistas com quem comentou o resultado da CDU no domingo. Merkel continua a apostar numa solução que acabe com a vaga migratória em direcção à Europa e voltou a sublinhar que é essa a sua agenda para a nova cimeira entre a União Europeia e a Turquia, que se realiza já na quinta e sexta-feira.

Quanto aos resultados do partido anti-imigração, a chanceler alemã considerou-os um "voto de protesto" sobre "o problema não resolvido dos refugiados". Mas ao comentar os votos conjuntos do seu partido, dos Verdes e dos sociais-democratas, disse que os resultados mostravam que está no bom caminho. "Tudo está bem quando há um grande consenso social", disse a chanceler, que governa a Alemanha há dez anos.

 

 

 

 

 

 

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