Al-Qaeda avança em Idlib, Turquia reforça segurança na fronteira

Grupo que é visto como o braço sírio da rede terrorista derrotou principais rivais na única província sob controlo rebelde. Ofensiva do regime é agora mais provável.

Foto
Foi na Primavera de 2015 que uma coligação que juntava jihadistas e islamistas conquistou Idlib Khalil Ashawi/Reuters (arquivo)

A Turquia decidiu restringir a passagem de bens não-humanitários para a Síria através do principal posto fronteiriço entre os dois países, que foi tomado pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) a nova designação do grupo que é internacionalmente considerado como o braço sírio da Al-Qaeda, durante a ofensiva que lhe permitiu tornar-se a força dominante na província rebelde de Idlib. Ancara anunciou também que está a tomar “as medidas necessárias” para reforçar a segurança na fronteira.

Com as atenções das potências internacionais concentrada na ofensiva contra o Daesh, travou-se entre o final de Julho e o início deste mês em Idlib – a última das províncias sírias que escapa totalmente ao controlo do regime – um dos mais duros combates de que há registo entre forças rebeldes rivais, e foram os jihadistas do HTS a sair vencedores. Em poucos dias, o grupo liderado por Mohammad al-Jolani apoderou-se da cidade de Idlib, de dezenas de outras localidades, e da fronteira de Bab al-Hawa, forçando o até aqui poderoso grupo salafista Ahrar al-Sham, apoiado pela Turquia e o Qatar, a retirar-se para o sul da província.

Este avanço “só pode ser descrito como uma grande vitória dos jihadistas no Noroeste da Síria”, escreveu o analista Aymenn Jawad al-Tamimi na revista Foreign Affairs, sublinhando que a supremacia do HTS irá transformar Idlib “num pária internacional”, afugentando as ONG que ainda trabalhavam no terreno e os países que continuam a apoiar a rebelião, cada vez mais dominada pelos extremistas. O avanço reforça também a narrativa do Presidente de Bashar al-Assad, que desde o início da guerra civil diz estar a combater grupos terroristas, e ali lançou um ataque químico em Abril, a que os EUA responderam bombardeando uma base aérea. Tudo isto aumenta as hipóteses do reinício da ofensiva do regime contra uma província onde vivem cerca de dois milhões de pessoas, milhares deles vindos dos antigos bastiões da oposição, como Alepo ou Homs.

“No caso de uma hegemonia da Frente al-Nusra [a designação inicial do HTS] em Idlib, seria difícil aos EUA convencerem os parceiros internacionais a não adoptarem medidas militares adicionais”, escreveu Michael Ratney, responsável do Departamento de Estado para a Síria que participou nas negociações com a Rússia para um cessar-fogo no sudeste do país. Os avanços durante a Primavera de 2015 da rebelião – liderada então pela Ahrar al-Sham, com o ajuda da al-Nusra e de outros grupos apoiados pelos EUA e Turquia – foi uma das alavancas para o início da intervenção russa na Síria, que permitiu a Assad inverter a sua sorte no conflito.

Uma nova ofensiva é vista com preocupação por vários aliados da oposição, mas nenhum mais do que a Turquia que, além da perda de influência sobre o país vizinho, receia uma nova vaga de refugiados.

É neste contexto que a Turquia ordenou quinta-feira o reforço dos controlos no posto fronteiriço, garantindo, no entanto, que medicamentos, comida e outros bens humanitários continuarão a ser enviados para a Síria. Já esta sexta-feira, o ministro do Comércio turco anunciou que, além do reforço da segurança ao longo dos 150 km de fronteira com a Síria, Ancara está pronta a adoptar qualquer acção “dentro ou fora” do seu território se sentir que a sua segurança está ameaçada. Questionado sobre aquilo a que se referia respondeu: “uma operação contra os extremistas em Idlib”. 

Sugerir correcção
Ler 8 comentários